Monday, December 29, 2008

Liquidificador


Jaipur, Índia. Setembro de 2006



Tudo que acontece é um maravilhoso pretexto para que eu possa metabolizar os múltiplos sentimentos que estão dentro de mim. Sentimentos que eu vivi, desejei, sofri, persegui. Sentimentos que eu evitei, que eu joguei numa gaveta, debaixo do tapete. Tudo é apenas um trampolim para eu digerir sentimentos que às vezes nem são meus, que eu peguei emprestado de alguém, do mundo. Sentimentos que são de minha vida, de outras vidas, de séculos atrás. Um turbilhão sem procedência, sem direção, sem rumo certo, sem explicação. E quando acontece, tudo parece tão profundo, tão real, tão meu. E quando vai embora, vai... e logo vem outro sentimento ainda mais profundo e mais sentido.

Thursday, December 25, 2008

Coisas que aprendi no Caminho


Santiago de Compostela, julho de 2008

Aprendi que vale a pena
seguir os meus sonhos
mas aprendi também
que muitas vezes nem sei
quais sonhos são meus

Aprendi que preciso
definir as minhas prioridades
e não priorizar o que a sociedade
decretou para mim

Aprendi que o ego é limitado
e que o coração e a alma
são infinitamente mais inteligentes

Aprendi que existe muito ruído no mundo
e que eu preciso calar a mente
para ouvir o coração

Aprendi que quando ouço meu coração
metas e objetivos são bobagens
porque a verdade interior
naturalmente se encarrega de tudo

Aprendi que não preciso
ir a nenhum lugar para achar o que estou buscando
porque tudo está bem aqui
dentro de mim

Aprendi que para amar
é preciso esvaziar o ego
porque onde existe ego
existe julgamento
e onde existe julgamento
não existe amor

Aprendi que ninguém completa ninguém
e que só quando sou inteira
consigo aceitar que o outro
seja ele mesmo

Aprendi que as pessoas
podem tentar me impor muitas coisas
mas que elas nunca poderão tirar
a minha autonomia e a minha dignidade

Aprendi que eu quero
fazer as coisas do meu jeito
não por egoísmo
mas porque deixar fluir o que está dentro de mim
alimenta a minha alma

Aprendi que mais importante
do que perdoar ao outro
é perdoar a mim mesma
entretanto, mais importante que perdoar a mim mesma
é perdoar ao outro

Aprendi que a forma mais sábia
de saber
é sentir
e que quando não sinto
procuro explicar

Aprendi que sou idiota e ridícula
e aceitar isso foi um grande alívio

Aprendi que o privilégio de uma existência é ser quem se é
e que ninguém pode fazer isso por mim.

Gracias, Camino!

Wednesday, December 24, 2008

A luz que brilha nos seus olhos é a mesma luz que brilha nas estrelas

Só um espírito livre entende outro espírito livre. Porque compartilham o mesmo olhar, a mesma busca, a mesma vontade de questionar.

Os espíritos livres anseiam pela pergunta que não quer calar, pela emoção profunda. Querem a intuição que está por trás dos acontecimentos, o sentimento que permeia todos os movimentos. O inexplicável que nos torna tão humanos.

O espírito livre não aceita amarras, rejeita convenções, ri do linear e não se contenta com explicações prontas.

Os espíritos livres erram, desviam, se confundem... porque só no movimento errático existe a dialética, a metamorfose e a transcedência. Choram, sofrem, magoam e são magoados. Amam profundamente. Acreditam no amor à primeira vista, à segunda vista. O amor a qualquer hora, em qualquer lugar. Porque o que importa é amar. É o amor.

Os espíritos livres vivem a originalidade, a autenticidade, a criatividade. Odeiam abertamente a ordem e a inércia. Desejam secretamente o paradoxo, a rebeldia e o caos que gera uma estrela. Quebram os tetos. Definem que o céu é o limite. Sempre.

O espírito livre se joga no abismo, se destrói e se constrói e se desconstrói mais uma vez. Recicla. Aprende e aprende de novo. Mas sabe que tudo está conectado, que tudo tem um sentido, que nada é por acaso. Que o divino mora em cada um e que o destino é sempre maior que qualquer pretensão cartesiana.

O espírito livre sabe que é idiota, ridículo, limitado.

Sabe que é, apenas. É intenso. É verdade. É.

Sunday, December 21, 2008

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

"Deus costuma usar a solidão
para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva,
para que possamos compreender
o infinito valor da paz.
Outras vezes usa o tédio,
quando quer mostrar-nos
a importância da aventura e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio
para nos ensinar sobre a responsabilidade
do que dizemos.
Às vezes usa o cansaço,
para que possamos compreender
o valor do despertar.
Outras vezes usa a doença,
quando quer mostrar-nos
a importância da saúde.
Deus costuma usar o fogo,
para nos ensinar sobre água.
Às vezes, usa a terra,
para que possamos compreender o valor do ar.
Outras vezes usa a morte,
quando quer mostrar-nos
a importância da vida"
Fernando Pessoa