Tuesday, May 18, 2010

Dele, dela e meu. Espaço.


Na semana passada tinha algo em mim que eu sentia, sentia mesmo, profundo, mas não conseguia formular. Coisa inquietante essa, porque eu sabia que estava lá, mas não tinha nome. Nomes.  E fiquei  buscando palavras, imagens, metáforas, porém não saia. Eu precisava dizer, quem sabe explicar, mas estava confusa. Atrapalhada diante da impossibilidade de expressão. Aí uma Rosa me enviou este texto. Que traduz um sentimento dele. Dela. E meu. E quem sabe, também um sentimento seu.
...
“A única coisa que posso fazer sempre, onde for, é construir meu próprio espaço. Não esperar nunca que alguém me dê a liberdade. A liberdade tem de ser construída por nós mesmos. Como? Cada qual tem de  descobrir por si só. Minha liberdade eu construo escrevendo, pintando, mantendo a minha visão simples do mundo, espreitando na selva como um animal, impedindo as intromissões na minha vida privada. O essencial para o homem é a liberdade. Interior e exterior. Atrever-se a ser você mesmo em qualquer circunstância ou lugar. A liberdade é como a felicidade: não chega nunca. Nunca se tem completa. É só um caminho. A gente caminha atrás da liberdade e da felicidade. E assim se vive. E só a isso que se pode aspirar. Faz alguns anos, e durante muito tempo, minha vida andou presa a conceitos,  a preconceitos, a idéias preconcebidas, a decisões alheias. Aquilo era  autoritário e vertical demais pra mim. Não conseguiria amadurecer assim. Vivia numa jaula, como um bebê que protejem e isolam pra que jamais amadureça seus músculos e desenvolva seu cérebro. Tudo desmoronou diante de mim. Dentro de mim. Com muito estrondo. E fiquei a beira do suicídio. Ou da loucura. Tinha de mudar alguma coisa no meu interior. Do contrário podia acabar louco ou cadáver. E eu queria viver. Simplesmente viver. Sem pressões. Talvez algum dia feliz. E reduzir as angústias. Isso é imprescindível: reduzir as angústias. Quem sabe seja só uma questão de ponto de vista. É preciso estar plenamente presente onde a gente se encontra, e não escapar sempre”.

Pedro Juan Gutiérrez

2 comments:

Alexandre Lucas said...

Lembrou-me de outro texto que cito abaixo. Pulsão mais forte do que eu:
"Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. Porque no fundo a gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro."
(Clarice Lispector)

untitled said...

Lindo! Eu só quero sentir! Todo o resto é banal!