Ela se arrumou, passou perfume e saiu ao encontro dele. Na hora e no local marcados, ele a esperava, aparentando casualidade. Puro simulacro. Olho no olho, ela intuiu que a ansiedade de beijá-la o atiçava com insistência. Na verdade, ele nunca sabia ao certo quando tocá-la e, naquele dia, menos ainda. O distanciamento articulado que ela demonstrava revolvia as inseguranças dele até a pele. O ponto de encontro era inusitado. Ela jamais estivera ali e pressentia que nunca mais voltaria, mesmo ciente de que nunca é uma terra desconhecida. Sentada, analisava o ambiente e as pessoas. Ponderava o anseio dele. E o mais importante: observava a si mesma. Há muito, fazia um exercício sincero para ser tomada pelo sentimento, qualquer sentimento. Entretanto, naquela circunstância, precisava lançar mão de sua frieza em desuso. Acreditava que essa era a única forma de conseguir dizer o que precisava ser dito. Ele falou por alguns minutos. Ela, introspectiva, apenas balançava a cabeça e aguardava o fim do protocolo. Vestida de uma postura inalterável, focou seu pensamento no que “deveria ser feito”. No fundo, nem o lugar e nem o momento estavam adequados. Mas ela se convencia de que para falar verdades irremediáveis, lugares e momentos ideais não existem. Após instantes jogados fora, um intervalo de silêncio tomou conta dos dois. Era o tão esperado vazio. Ela hesitou. Tinha plena certeza do seu propósito, mas lhe doía assumir uma armadura insensível. Não por causa dele ou do que ele poderia vir a sentir. Mas porque aquela carapaça mental significava um retrocesso na sua vida. Não era a coisa em si ou a conseqüência da coisa em si que a chateava. Era o como. Haveria uma forma mais sutil de terminar um relacionamento? Ela desconfiava que sim. Porém, a sua suspeita sobre essas outras maneiras era puramente teórica. Conformada, assumiu o jeito pragmático que conhecia. Sem rodeios, despediu-se dele em menos de cinco minutos. Seu adeus saiu como um tiro. Com uma tranqüilidade fingida, levantou, agradeceu por tudo e foi embora, fragilmente aliviada.
Thursday, September 09, 2010
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3 comments:
Clap clap clap!
Dor dor dor!
ai o "como", é sempre ele, o "como".
menina, vc tá ficando boa nesses textos, hein? Tenho adorado essas "crônicas sentimentais", já imaginei outra cena...
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