Depois de ouvir todo o discurso repressor dele, ela respirou fundo e com os olhos marejados iniciou um monólogo por muito tempo reprimido: que as outras pessoas me censurem, digam que eu enlouqueci, que larguei tudo porque perdi o senso de realidade, eu até entendo. Mas você, você não. Você sabe o que me move. Fala. Fala pra mim quantas pessoas teriam o desprendimento de fazer o que eu fiz? De suportar o tranco de uma mudança real, profunda e verdadeira? De sair do discurso? De ser, de fato, a própria reinvenção? Porque todo mundo fala de mudança, mas cadê? O povo fica só no texto. Reclamando e dizendo que um dia vai mudar. Mas é tudo papinho. A maioria só faz transformação cosmética. Sabe porquê? Porque o vazio que precede o salto é f**a. Porque uma mudança de verdade exige buraco. Exige uma temporada no nada. No limbo. Me diz: quem, por livre espontânea vontade, entra no inferno? Quem? E porque eu entrei? Não tinha porquê. Sei lá. Tinha um grito existencial dentro mim. Eu queria não ter, mas tinha. Eu tentava não sentir, mas sentia. Queria calar e fazer de conta que não havia. Mas havia. Por este motivo fui em busca de um sentido. E não, até agora eu não sei onde vai dar. PQP, eu não posso lhe apresentar respostas. Só tem caos dentro de mim. Já falei: tô no l-i-m-b-o. Sabe o que é limbo? Um estado totalmente vago. Eu não tenho a mínima idéia do que vai acontecer comigo daqui a pouco que dirá amanhã. Eu não sei se vou morrer na solidão e na miséria porque decidi mudar a minha vida. Eu não sei! Mas eu sei que não queria mais o que eu tinha. Tava tudo ótimo, mas no fundo não tava. Que fundo? Esse fundo que não tem fundo. Que você procura onde colocar o pé mas não acha. Essa voz que incomoda, que você reprime e volta. Por isso eu fiz o que fiz. Por isso larguei tudo. Por isso deixei você. Segui no escuro em direção ao que não se sabe. Não foi uma escolha. Foi um desespero. Uma sensação total e completa de exasperação. É por esta razão que eu lhe falo: pare de me segurar. Eu sei que você acha essa conversa loucura de maluco. Que a sua vida é incrível e que, aliás, você queria que tudo fosse exatamente como era antes. Eu entendi que você quer manter o status quo. Respeito. Mas eu? Eu quero diferente. Eu cansei de melhorias aparentes. Eu quero o salto quântico. E nada e nem ninguém vai me demover do que você classifica de sandice. É maior do que eu. Um indefinível me puxa. E se você me quer bem, como você diz que me quer, solte a minha mão. Deixe-me seguir para este lugar que eu nem sei se lugar é. Se você me ama, do jeito que você diz que me ama, por favor, me deixe ir. E quando eu estiver lá, se por acaso o pavor me consumir ou me paralisar, eu lhe peço: me empurre. Sim, use toda a força do seu amor para me arremessar no abismo.
Saturday, October 09, 2010
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