Ele olhou para ela com aqueles olhos de quem havia tomado uma decisão definitiva e disse: "não consigo mais continuar nesta relação. Estou buscando paz e tranqüilidade, enquanto você insiste em desestabilizar o nosso fluxo. Refleti muito sobre tudo isso e cheguei à seguinte conclusão: algumas pessoas são apegadas a bens materiais. Este, evidentemente, não é o seu caso. Mas você possui um apego imenso a certos comportamentos. Você não só é muito intensa e impulsiva, como adora essa imprevisibilidade emocional que você criou para você mesma. Quando começamos a ter uma rotina um pouco mais serena, você dá um jeito de revirar tudo. Inventa mil viagens e mesmo quando está aqui em Sampa não sossega. Vive enlouquecida, metida em várias atividades. Já até perdi as contas de quantos grupos você participa - executivas, leitura, teatro, responsabilidade social. Ah, já ia me esquecendo da sua última novidade que é o grupo de meditação. De que adianta parar uma vez por semana para meditar se você continua completamente conectada a esse turbilhão interno e externo? Você repete continuamente que não quer mais tanta movimentação, mas você não para. Nem externamente e nem internamente. Existe um caos dentro e fora de você. E sabe o quê? Ao longo desses meses, eu finalmente compreendi que você é completamente viciada nesta instabilidade emocional. Você vive pregando o desapego, mas tem um apego desvairado à sua postura inconstante. E quer me arrastar com você nisso. Tenho a sensação de que quando começa a dar liga entre a gente, você quebra com todo e qualquer possível vínculo. Você tem uma necessidade visceral de romper com o contínuo, como se a continuidade significasse estagnação. Ah, também tem o outro lado da moeda: como você alimenta este ambiente profundamente inseguro, acaba sentindo dentro de você mesma uma grande insegurança, que lhe leva à urgência de controlar tudo aquilo que mexe com você: se controlar, me controlar, controlar os seus e os meus sentimentos. Até os acontecimentos você quer controlar. Quanta contradição! Enfim. Eu quero que você saiba que não compactuo mais com o seu vício. A vida me ensinou que o amor, inclusive o amor-próprio, necessita de muita quietude para acontecer. Precisa do tempo dos bichos, das frutas, da gestação. E você tem tanta pressa de viver, mas tanta pressa, que acaba passando pela vida sem viver de fato. Sem amar. Eu gosto de você. Gosto mesmo. Mas me diga: quando é que você vai crescer?" Com um choro tão inevitável quanto a inevitabilidade daquele momento, ela sentiu o abraço quente dele e respondeu baixinho, quase inaudível: "Eu não sei".
Friday, November 12, 2010
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1 comment:
E, assim, as coisas seguem sem nenhuma mudança... nenhumazinha...
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