Meu querido e iluminado mestre Siddhartha,
Antes de mais nada, quero expressar aqui a minha mais profunda admiração por você. Os seus ensinamentos são uma eterna fonte de aprendizado para mim. Inclusive, foi um deles que me inspirou a lhe escrever esta modesta cartinha: “Não acredite em mim. Você deveria testar qualquer coisa que as pessoas dizem através de sua própria experiência antes de aceitar ou rejeitar algo".
Sendo assim, com todo respeito, eu queria lhe fazer uma pergunta. Eu gostaria de entender melhor este tal deste Caminho do Meio. Porque eu tento, tento e não consigo. Na teoria, até que vai, entretanto, não logro praticá-lo. Ou melhor, consigo, mas só de vez em quando. Eu sei que você pregou este fundamento, mas quando observo a sua própria trajetória, confesso que não vejo muito de meio termo. Desde quando abandonar a família, meditar durante sete dias seguidos debaixo de uma árvore e depois passar mais de 40 anos como asceta andarilho é um caminho do meio? Não seriam estas atitudes extremas? Qualquer um que faça isso, ainda hoje, é taxado de louco. Felizmente, penso eu, você foi um homem obstinado. Imagine se você tivesse saído do seu firme propósito e realizado tudo isso de forma moderada? Imagine se, naquela época, alguém lhe aconselhasse algo como: "Siddhartha, não seja tão extremista largando sua esposa e filho. Reflita melhor. Lembre-se que o caminho do meio é uma condição para atingirmos a felicidade maior". Tivesse você ouvido, estaríamos nós aqui sem o budismo. Que lamentável seria! No meu entender, as suas resoluções absolutamente revolucionárias é que permitiram que você deixasse um legado espiritual para a humanidade. De verdade, nada contra o Caminho do Meio. Muito pelo contrário. Em alguns momentos, necessário. Apenas sou contra estes postulados dogmáticos que pregam que este caminho é "o" certo. Por favor, me esclareça, se este comportamento for, de fato, "o" correto, o que explica você ter sido tão radical?
Enfim, Siddhartha, querido, esta é a minha dúvida. Obrigada por me ouvir. Na minha impermanência, permaneço no aguardo de sua sábia resposta.
Namastê!
Patrícia
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