Tuesday, April 05, 2011

O Tempo do Útero

Caminho de Santiago, 07/09.



O tempo do útero grudou em mim, um tempo em que nada precisa ser feito, cumprido, fiscalizado. Um tempo que corre solto, frouxo, leve, livre. Não se pode acelerar,  nem pedir que seja mais devagar. Porque o tempo do útero só corre no ritmo dele e em nenhum outro mais. Nenhuma pressão externa pode alterá-lo. Nenhuma tecnologia ultra-moderna, desespero com ou sem causa, conversa articulada ou fiada pode influenciá-lo. É um tempo interno, imune aos gráficos de controle, às metas de performance, aos prazos determinados. É um tempo que perdoa todos os julgamentos, culpas, frustrações. É o tempo das frutas, das plantas, dos insetos,  da preguiça gostosa, do andar arrastado, do carinho sem pressa, do cafuné. Do banho de mar quando o sol se despede e a lua desponta.  Da aceitação, do acolhimento, da entrega. Foi este o tempo que se aconchegou em mim, um tempo sem início, meio ou fim.

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