Caminho de Santiago, 07/09.
O tempo do útero grudou em mim, um tempo em que nada precisa
ser feito, cumprido, fiscalizado. Um tempo que corre solto, frouxo, leve,
livre. Não se pode acelerar, nem
pedir que seja mais devagar. Porque o tempo do útero só corre no ritmo dele e
em nenhum outro mais. Nenhuma pressão externa pode alterá-lo. Nenhuma
tecnologia ultra-moderna, desespero com ou sem causa, conversa articulada ou fiada
pode influenciá-lo. É um tempo interno, imune aos gráficos de controle, às
metas de performance, aos prazos determinados. É um tempo que perdoa todos os
julgamentos, culpas, frustrações. É o tempo das frutas, das plantas, dos
insetos, da preguiça gostosa, do
andar arrastado, do carinho sem pressa, do cafuné. Do banho de mar quando o sol
se despede e a lua desponta. Da
aceitação, do acolhimento, da entrega. Foi este o tempo que se aconchegou em
mim, um tempo sem início, meio ou fim.
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