Eu ando obcecada pela ideia de que precisamos ser desobedientes. Sim, desobedientes.
Comecei a analisar algumas pessoas as quais admiro e me dei conta de que todas elas cometeram esse delicioso pecado: ser desobediente.
Começo pelos exemplos mais recentes: Steve Jobs, que pensou e fez diferente, e os fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin, que quebraram diversos dogmas corporativos.
Porém, queria recordar alguns outros nomes que andam alimentando a minha obsessão de que desobedecer vale a pena.
Como não lembrar de Ayrton Senna, que ultrapassou os limites de velocidade e tornou-se o nosso eterno herói? Nelson Mandela, que durante toda a sua vida se recusou a obedecer a um governo hipócrita e injusto, transformando assim radicalmente a história africana. Vamos mais longe para evocar Maria Quitéria. Já em 1823, contra a vontade de seu pai, uma mulher teve a audácia de cortar os cabelos, se vestir de homem, fugir de casa e lutar pela emancipação do nosso país. John Lennon, que, contrariando a máxima de que não se mexe em time que está ganhando, rompeu com os Beatles para promover a paz.
A lista de desobedientes que nos inspiram é extensa.
Desobedecer é um aprendizado. Requer sabedoria. Requer valentia. Requer um eixo chamado dignidade. Diria até que requer um grau de heroísmo.
Evidentemente, eu não estou me referindo, aqui, ao desobedecer pelo desobedecer. Isso é chilique de criança mimada, é rebeldia sem causa de adolescente. Quem continua a desobedecer apenas por desobedecer recusou-se a virar adulto.
A desobediência a qual me refiro é, antes de mais nada, afirmativa. Ela constrói uma realidade melhor, um contexto mais reto, uma sociedade na qual temos orgulho de fazer parte. É a desobediência de quem, no meio deste tsunami de informações, regras, referências e opiniões, aprendeu a ouvir o seu coração e a sintonizar na certeza divina de que não estamos neste mundo apenas para concordar ou para discordar, mas, antes de mais nada, para contribuir com algo maior.
Acredito que aí está o carisma das pessoas excepcionais que conseguiram desobedecer afirmativamente: ter um propósito que vem do coração. Porque só o coração tem a imensa coragem de desobedecer a uma sociedade que, muitas vezes, insiste em subjugar a grandiosidade da vida.
Paulo Freire, pedagogo brasileiro, defendeu que ninguém ensina nada a ninguém, mas tampouco ninguém aprende sozinho. Aprendemos todos quando compartilhamos.
Sendo assim, era isso que eu queria compartilhar com vocês hoje: que eu ando tentando acessar a minha intuição para quem sabe, um dia, ter a coragem de ser uma grande desobediente.
Mas não se enganem, eu não quis aqui convencê-los de serem desobedientes e nem obedientes. No final das contas, a conformidade ou a inconformidade é só uma questão de perspectiva.
O que eu realmente desejo a vocês é que vocês aprendam a escutar a sua própria voz interior, pois ninguém sabe a sua fortuna. Mas o seu coração sabe. Só ele sabe.
***
Escrevi este texto para os meus alunos. Honra e gratidão por ter sido escolhida paraninfa no dia da formatura.
4 comments:
Parabéns, Pat! Belo texto! Desobediência afirmativa.
Feliz Natal para você! Abraços
Patricia,muito legal o seu texto.Talvez tambem poderia ser um "recomeçar",mudar o rumo das coisas,seguindo o coração ,claro.
Parabens!
Oi Beto, obrigada! Um ótimo Natal para vc também!
Obrigada! Sim, mudar!!!!
Post a Comment