Quem disse isso tem razão: a vida é uma longa e sonora gargalhada.
Saturday, March 31, 2012
Tuesday, March 27, 2012
Sunday, March 25, 2012
24 horas
Hoje, você pode dizer o que quiser, fazer o que quiser, ser quem quiser ou então, não dizer, não fazer, não ser. Aceito. Juro que hoje eu serei ampla e irrestritamente só amor por você. Pode surtar, calar, desejar, rejeitar... murmurar inseguranças e suspiros. Afetos amargos, afetos doces. O que vier de você, hoje, dançará em mim, sem nenhuma resistência, sem nenhuma crítica, sem nenhuma observação. Até mais, acredite: o meu coração irá vibrar, compactuar, sintonizar com você. Irá acolher incondicionalmente todas as suas contradições e as suas loucuras mais profundas. Numa inteireza macia, a minha alma, a minha mente e o meu corpo irão, entregues, lhe sorrir e suavemente lhe dizer: nas próximas 24 horas, você, sim você, pode tudo.
Friday, March 23, 2012
Thursday, March 22, 2012
Livre!!!!!!!!!!!!!!!!!
Perdi as contas de quantas vezes eu tentei lhe matar, porém você não morria. Tentei tanto, tanto, em vão. Juro que já tinha quase que desistido - menos por covardia e mais por cansaço. Inesperadamente, hoje foi o tiro de misericórdia. Mirei em alguém nem tão importante e, no entanto, acabei acertando em você. Finalmente. Finalmente! Hoje é um grande dia para a criança selvagem e espontânea. Até que enfim, ela poderá sair do seu esconderijo sem ter que se deparar com a sua presença policialesca e se defender do seu crivo frio e metálico. Vai passear livremente, andar por aí, respirar por aí. Usufruir da luz do dia sem ter que ouvir a sua voz crítica, julgadora e fraudulenta. Livre!
Wednesday, March 21, 2012
Faz alguma diferença?
Você continua me perguntando se o que eu escrevo aqui é verdade... Deus do céu, você não sabe que só os bêbados e as crianças é que mentem?
Tuesday, March 20, 2012
Monday, March 19, 2012
Saturday, March 17, 2012
Você não vale nada...
Quando você fala palavras no meu ouvido, eu estremeço. Qualquer palavra. Palavras de raiva, de insulto, de aviso. Não importa. O que me importa mesmo é o ar que sai da sua boca. O que me arrepia é esse ar. Fico sentindo. Focando. É por isso que o que eu mais gosto é quando você finalmente se cansa de me contrariar e de tentar me convencer e simplesmente respira, respira, respira.
Friday, March 16, 2012
Just imagine...
Eu sonho com o dia em que os hyperlinks irão subverter todas as formas de comando e controle da nossa sociedade. Eu disse: todas! Neste dia, que muito em breve ocorrerá, viveremos de igual para igual. Nunca mais mandando, nunca mais ensinando, nunca mais subjugando. Apenas aprendendo, criando e trocando.
?
Responda você, para você. Porque para mim, essa resposta não tem mais o menor valor. É passado. Mas para você, ah para você, isso é de tanta importância, de tanta atualidade. É a pedra que está situada no meio do seu caminho e que seguramente lhe impede de seguir adiante. Pense com calma, reflita com carinho e responda com a honestidade da sua alma: por que você, mesmo querendo, mesmo desejando muito, mesmo sonhando semanas a fio com essa possibilidade, talvez até meses, não veio ao meu encontro ontem?
Freio de mão
Eu vou escrever sobre o que eu quiser escrever. Sobre os homens instáveis e covardes que me rodeiam - que eu amo e odeio - e que são os meus espelhos. Sim, eu vou continuar escrevendo sobre as suas atitudes imaturas e fazendo de conta que a indecisão e o medo estão neles, não em mim. Eu vou continuar escrevendo sobre você, a hora que eu quiser, do jeito que eu quiser, só para me lembrar do meu escapismo, do freio de mão que eu puxei até o talo, de todos os coitos interrompidos, de todos os prazeres orgásticos que eu adiei, só porque não tive a coragem de me entregar plenamente ao fluxo incontrolável da vida.
Monday, March 12, 2012
Friday, March 09, 2012
Wednesday, March 07, 2012
Eu queria dar um beijo na boca de Nietzsche
Sempre quis beijar Nietzsche. Noites e noites, ficava imaginando como seria o beijo de um homem que estendeu a corda sobre o abismo e anunciou o eterno retorno. Pois bem, na semana passada, tive a honra de conhecer Friedrich Wilhelm Nietzsche pessoalmente. Recebi um convite repentino e fui assistir a uma de suas fascinantes palestras numa seleta livraria perto de casa.
No caminho, fiquei ensaiando as frases supostamente inteligentes que diria a ele, mesmo sabendo que, entre nós dois, um diálogo surpreendente não aconteceria. Pode alguém impressionar um espírito livre? Cheguei cedo e peguei um lugar na primeira fila. Aprumei-me com gosto na cadeira de madeira maciça. Durou pouco. Cinco minutos depois, julgando a mim mesma uma mulher não tão ousada, resolvi me deslocar até uma poltrona escondida no fundo.
Rapidamente o ambiente ficou lotado e ele apareceu. Não era bonito. Definitivamente não. Mas desde quando os gênios precisam ser atraentes? Bastou dizer boa noite e o meu imaginário flutuou, floresceu, flanou. Falou pouco. Falou baixo. Falou através de metáforas, obviamente. Ao final da sua breve apresentação, os convidados lançaram perguntas e discutiram o futuro da humanidade. Não me atrevi a participar. Conformei-me com uma posição de ouvinte atenta, até que uma senhora da platéia desviou do tema, fazendo uma despropositada apologia aos efeitos positivos que os livros de autoajuda geram nesta sociedade carente, devolvendo às pessoas à capacidade de superar ilusões e atuar de forma consciente e realista na esfera dos sentimentos. Não agüentei. Uma indignação me tomou o corpo e nem a minha timidez diante de Friedrich pode me deter. O elogio a receitas frívolas de felicidade em plena sessão destinada à profunda reflexão filosófica urgia ser revidado. Contestei usando um arsenal de argumentos cabais. Neste acaso providente, percebi que ele havia me notado, rindo da minha revolta desproporcionada e talvez infantil. Riu e só, nada adicionou. De minha parte, estava satisfeita, pois havia me posicionado contra a banalidade e obtido cinco segundos da atenção do meu filósofo favorito.
Após a palestra, fui até o caixa da livraria, comprei uma de suas obras e entrei na longa fila de autógrafos que pouco se movia. Quando finalmente chegou a minha vez, ele olhou para mim, pegou o livro, deu um sorriso de canto de boca, perguntou o meu nome e escreveu: Para Sofia, do olhar abismal e lúcido. Com carinho. Assinou a mensagem de forma legível e, para a minha surpresa, logo abaixo do nome, anotou o número de seu celular. Poderia esperar qualquer coisa menos que ele abrisse comigo a sua intimidade. Tampouco passou pela minha cabeça que fosse adepto dessa parafernália contemporânea e, muito menos, que eu teria acesso a uma informação pessoal. Agradeci a dedicatória e sai lisonjeada.
No dia seguinte, liguei para ele – claro! Como não ceder a Nietzsche? Em nossa breve conversa telefônica, foi simpático e logo me chamou para almoçar. Sua sugestão, que me soou peculiar, é que fossemos a um botequim de uma rua duvidosa que servia comida a quilo. Calei. Havia fantasiado Nietzsche como um homem refinado e a sua escolha me desapontou. Após um breve instante de silêncio, respondi: adoraria! Mesmo cismada com o local de encontro, tentei abstrair. Mais ainda, fui me convencendo de que os gênios são assim: usam roupas descombinadas, não se importam com primeiros encontros e esquecem a data do próprio aniversário. Sai de casa arrumada, cheirosa e otimista: será essa a minha grande chance? Já pensou, eu, euzinha, dando um beijo na boca de ninguém mais, ninguém menos do que Nietzsche?
Quando nos avistamos, apressou-se em me cumprimentar. Ao ouvir o seu olá, uma tela imagética foi projetada no meu pensamento. Nitidamente vi o Garoto Enxaqueca. Estremeci. Essa figura da MTV, por mais que fosse um desenho animado, me parecia real, bem como a lembrança daquela musiquinha estridente que irritava os ouvidos.
Juntos, caminhamos até o buffet daquele estabelecimento, digamos, módico e pragmático. Embora faltasse glamour ou romantismo, tentava enxergar o lado afirmativo de uma oportunidade singular. Comer arroz empapado com feijão queimado pode até ser banal, mas, na vida, tudo é uma questão de circunstância. Não é todos os dias que se come uma feijoada requentada com Nietzsche. Aquela era uma aventura revolucionária, conclui. Sendo assim, tentei esquecer a minha decepção romântica e focar na oportunidade da minha vida: entrar para a história como a professora de filosofia que beijou Nietzsche.
Iniciamos uma conversa e, em pouco tempo, percebi que conseguir um beijo havia deixado de ser a grande ambição histórica da minha vida. Seus gestos eram óbvios e sem graça. O seu olhar, de peixe morto, e a sua narrativa, mórbida – como lhe agradava falar sobre doenças! Comecei a me apavorar, a evitar o seu hálito critico e o seu corpo fleumático. E se ele, de rompante, me pedir um beijo? Inconcebível. Tentei abafar a escuta para bolar um plano de escape daquele self-sevice que cheirava a pastel. Comecei a ruminar como conseguir uma aspirina para a minha dor de cabeça. Nietzsche até tinha muitas qualidades, mas “pegada” decididamente não era uma delas.
Diante deste contexto bizarro, já não fazia mais a mínima diferença a percepção que ele tinha de mim. A minha única meta era me livrar dele o mais breve possível. Pensei em algumas desculpas, todas mesquinhas e sem criatividade. O seu discurso hermético me entediava. Sua língua articulava verbetes mortos. Seria grego? Pior, comecei a achá-lo um bobo. Sim, pois só um homem sem discernimento emocional prefere construir um tratado metafísico do que trocar um olhar sedutor com uma mulher. Será que ele não percebeu que o nosso almoço tinha um cunho erótico? Infrutífero. A sua verborragia já atingia a transcendência, quando finalmente saiu do discurso aforístico: um pudim de leite. A simplicidade tranqüilizou os meus ouvidos exaustos de tanta dialética. Exultante, exclamei: sim! Sim! E emendei categoricamente: podemos pedir a conta também. Espantado, perguntou: você não quer café? Só bebo café às segundas-feiras e hoje é sexta, soltei. Desapercebido do meu sarcasmo, iniciou uma discussão sobre a inutilidade das rotinas acachapantes. Interrompi sem rodeios: preciso ir embora. Concordou.
Quando a conta chegou, antecipou: como você prefere pagar? Foi a gota transbordante. Além da minha profunda decepção com o encontro, teria que dividir valores irrisórios. Onde foi parar o cavalheiro de educação clássica exemplar? Vale refeição, retruquei. Trabalhar em uma faculdade tem seus privilégios. Qual é o seu plano de saúde? Nocaute. O meu - até aquele almoço - venerado Friedrich, preferia trocar informações sobre o sistema de benefícios das instituições acadêmicas do que segurar na minha mão. A minha paixão se dissolveu. Não haveria retorno. Não, senhor! Irrevogável. Levantei apressadamente. Até um beijo no rosto seria impensável. Paguei com dinheiro. Ele, sentado, parecia alheio às minhas atitudes e desaprovações faciais. Sem atentar para a minha rebeldia feminina, perguntou: qual o valor da hora aula? Já de costas, continuei caminhando. Os livros vou vender para o Sebo do Messias, planejei. Negativo, vou doar, mais digno. Peguei um ônibus até a Av. Paulista, em busca de um lugar onde pudesse desanuviar e tomar um café. Ainda no coletivo, reli a dedicatória: “Para Sofia, do olhar abismal e lúcido. Com carinho.” E li mais uma vez e outra vez em voz alta. O real caiu verticalmente na minha cabeça perfurando a minha imaginação. Friedrich Wilhelm Nietzsche queria filosofar comigo. Só. Entrei numa livraria e perguntei: tem livro de autoajuda?
No caminho, fiquei ensaiando as frases supostamente inteligentes que diria a ele, mesmo sabendo que, entre nós dois, um diálogo surpreendente não aconteceria. Pode alguém impressionar um espírito livre? Cheguei cedo e peguei um lugar na primeira fila. Aprumei-me com gosto na cadeira de madeira maciça. Durou pouco. Cinco minutos depois, julgando a mim mesma uma mulher não tão ousada, resolvi me deslocar até uma poltrona escondida no fundo.
Rapidamente o ambiente ficou lotado e ele apareceu. Não era bonito. Definitivamente não. Mas desde quando os gênios precisam ser atraentes? Bastou dizer boa noite e o meu imaginário flutuou, floresceu, flanou. Falou pouco. Falou baixo. Falou através de metáforas, obviamente. Ao final da sua breve apresentação, os convidados lançaram perguntas e discutiram o futuro da humanidade. Não me atrevi a participar. Conformei-me com uma posição de ouvinte atenta, até que uma senhora da platéia desviou do tema, fazendo uma despropositada apologia aos efeitos positivos que os livros de autoajuda geram nesta sociedade carente, devolvendo às pessoas à capacidade de superar ilusões e atuar de forma consciente e realista na esfera dos sentimentos. Não agüentei. Uma indignação me tomou o corpo e nem a minha timidez diante de Friedrich pode me deter. O elogio a receitas frívolas de felicidade em plena sessão destinada à profunda reflexão filosófica urgia ser revidado. Contestei usando um arsenal de argumentos cabais. Neste acaso providente, percebi que ele havia me notado, rindo da minha revolta desproporcionada e talvez infantil. Riu e só, nada adicionou. De minha parte, estava satisfeita, pois havia me posicionado contra a banalidade e obtido cinco segundos da atenção do meu filósofo favorito.
Após a palestra, fui até o caixa da livraria, comprei uma de suas obras e entrei na longa fila de autógrafos que pouco se movia. Quando finalmente chegou a minha vez, ele olhou para mim, pegou o livro, deu um sorriso de canto de boca, perguntou o meu nome e escreveu: Para Sofia, do olhar abismal e lúcido. Com carinho. Assinou a mensagem de forma legível e, para a minha surpresa, logo abaixo do nome, anotou o número de seu celular. Poderia esperar qualquer coisa menos que ele abrisse comigo a sua intimidade. Tampouco passou pela minha cabeça que fosse adepto dessa parafernália contemporânea e, muito menos, que eu teria acesso a uma informação pessoal. Agradeci a dedicatória e sai lisonjeada.
No dia seguinte, liguei para ele – claro! Como não ceder a Nietzsche? Em nossa breve conversa telefônica, foi simpático e logo me chamou para almoçar. Sua sugestão, que me soou peculiar, é que fossemos a um botequim de uma rua duvidosa que servia comida a quilo. Calei. Havia fantasiado Nietzsche como um homem refinado e a sua escolha me desapontou. Após um breve instante de silêncio, respondi: adoraria! Mesmo cismada com o local de encontro, tentei abstrair. Mais ainda, fui me convencendo de que os gênios são assim: usam roupas descombinadas, não se importam com primeiros encontros e esquecem a data do próprio aniversário. Sai de casa arrumada, cheirosa e otimista: será essa a minha grande chance? Já pensou, eu, euzinha, dando um beijo na boca de ninguém mais, ninguém menos do que Nietzsche?
Quando nos avistamos, apressou-se em me cumprimentar. Ao ouvir o seu olá, uma tela imagética foi projetada no meu pensamento. Nitidamente vi o Garoto Enxaqueca. Estremeci. Essa figura da MTV, por mais que fosse um desenho animado, me parecia real, bem como a lembrança daquela musiquinha estridente que irritava os ouvidos.
Juntos, caminhamos até o buffet daquele estabelecimento, digamos, módico e pragmático. Embora faltasse glamour ou romantismo, tentava enxergar o lado afirmativo de uma oportunidade singular. Comer arroz empapado com feijão queimado pode até ser banal, mas, na vida, tudo é uma questão de circunstância. Não é todos os dias que se come uma feijoada requentada com Nietzsche. Aquela era uma aventura revolucionária, conclui. Sendo assim, tentei esquecer a minha decepção romântica e focar na oportunidade da minha vida: entrar para a história como a professora de filosofia que beijou Nietzsche.
Iniciamos uma conversa e, em pouco tempo, percebi que conseguir um beijo havia deixado de ser a grande ambição histórica da minha vida. Seus gestos eram óbvios e sem graça. O seu olhar, de peixe morto, e a sua narrativa, mórbida – como lhe agradava falar sobre doenças! Comecei a me apavorar, a evitar o seu hálito critico e o seu corpo fleumático. E se ele, de rompante, me pedir um beijo? Inconcebível. Tentei abafar a escuta para bolar um plano de escape daquele self-sevice que cheirava a pastel. Comecei a ruminar como conseguir uma aspirina para a minha dor de cabeça. Nietzsche até tinha muitas qualidades, mas “pegada” decididamente não era uma delas.
Diante deste contexto bizarro, já não fazia mais a mínima diferença a percepção que ele tinha de mim. A minha única meta era me livrar dele o mais breve possível. Pensei em algumas desculpas, todas mesquinhas e sem criatividade. O seu discurso hermético me entediava. Sua língua articulava verbetes mortos. Seria grego? Pior, comecei a achá-lo um bobo. Sim, pois só um homem sem discernimento emocional prefere construir um tratado metafísico do que trocar um olhar sedutor com uma mulher. Será que ele não percebeu que o nosso almoço tinha um cunho erótico? Infrutífero. A sua verborragia já atingia a transcendência, quando finalmente saiu do discurso aforístico: um pudim de leite. A simplicidade tranqüilizou os meus ouvidos exaustos de tanta dialética. Exultante, exclamei: sim! Sim! E emendei categoricamente: podemos pedir a conta também. Espantado, perguntou: você não quer café? Só bebo café às segundas-feiras e hoje é sexta, soltei. Desapercebido do meu sarcasmo, iniciou uma discussão sobre a inutilidade das rotinas acachapantes. Interrompi sem rodeios: preciso ir embora. Concordou.
Quando a conta chegou, antecipou: como você prefere pagar? Foi a gota transbordante. Além da minha profunda decepção com o encontro, teria que dividir valores irrisórios. Onde foi parar o cavalheiro de educação clássica exemplar? Vale refeição, retruquei. Trabalhar em uma faculdade tem seus privilégios. Qual é o seu plano de saúde? Nocaute. O meu - até aquele almoço - venerado Friedrich, preferia trocar informações sobre o sistema de benefícios das instituições acadêmicas do que segurar na minha mão. A minha paixão se dissolveu. Não haveria retorno. Não, senhor! Irrevogável. Levantei apressadamente. Até um beijo no rosto seria impensável. Paguei com dinheiro. Ele, sentado, parecia alheio às minhas atitudes e desaprovações faciais. Sem atentar para a minha rebeldia feminina, perguntou: qual o valor da hora aula? Já de costas, continuei caminhando. Os livros vou vender para o Sebo do Messias, planejei. Negativo, vou doar, mais digno. Peguei um ônibus até a Av. Paulista, em busca de um lugar onde pudesse desanuviar e tomar um café. Ainda no coletivo, reli a dedicatória: “Para Sofia, do olhar abismal e lúcido. Com carinho.” E li mais uma vez e outra vez em voz alta. O real caiu verticalmente na minha cabeça perfurando a minha imaginação. Friedrich Wilhelm Nietzsche queria filosofar comigo. Só. Entrei numa livraria e perguntei: tem livro de autoajuda?
Eu digo sim!
Eu giro, giro e caio sempre no mesmo lugar: aceitação. Aceitação plena de si e do outro, do aqui e agora, da luz e da sombra, do masculino e do feminino, das coisas como elas realmente são, da fantasia, da limitação e da abundância, do belo e do feio. Das infinitas contradições. Aceitação de que não existe apenas aceitação. Aceitação de que não se pode aceitar o tempo todo. De que não existe regra. Eu giro, giro, giro e aceito cada vez mais que, mesmo com toda negação, o mundo é pura afirmação.
Tuesday, March 06, 2012
Friday, March 02, 2012
Natureza Selvagem
Um dia acordei, olhei para o teto do quarto e pensei: não posso mais fingir para mim mesma. Neste instante de pura renúncia a tudo o que em mim era falso, comecei a viver.
Thursday, March 01, 2012
Acampamento II
Tinha eu e tinha você. E tinha mais todas aquelas pessoas chatas e dispensáveis que, a cada segundo, inutilmente abriam as suas bocas para emitir palavras gastas e interromper o nosso silêncio essencial.
Acampamento
Se a sua mão quente viesse, mas não vinha. Por mais que rogasse o silêncio, por mais que se esbaldasse a escuridão, por mais que o seu corpo exigisse, a sua mão paralisada não vinha.
Só até a primeira página
Você sai por aí dizendo que é livre. Porra nenhuma. É nada. Neste mundo dominado, ninguém é.
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