Sunday, May 20, 2012

Acontece



Quando eu voltei de viagem e abri a porta do nosso apartamento, sabia que você tinha me abandonado. Do aeroporto, já imaginei. A caminho de casa, liguei no seu celular, mas diferentemente do que sempre ocorria, você não atendeu. Chamou várias vezes e você não respondeu. Pensei: ela saiu de casa. O Gabriel Garcia Marques teria afirmado: crônica de uma morte anunciada. Eu apenas torci para que a realidade não imitasse a ficção. Chegando no prédio, imediatamente subi o elevador, entrei na sala, deixei a mala, fui até o quarto. Tudo parecia igual. Abri o armário e constatei: as suas roupas não estavam mais lá. Peguei o celular e lhe liguei de novo. Tocou várias vezes, mas você não atendeu. Senti uma culpa, a culpa que todos os homens sentem mesmo sem saber o que fizeram de  errado. Ou uma culpa por tudo o que eu havia feito de errado, mesmo sem saber porquê. Não sabia distinguir direito. Liguei no seu celular mais uma vez, sabendo, de antemão, que você não iria atender. Eu conhecia você, determinada, para o bem e para o mal. Olhei ao redor do quarto, olhei a cama, vi a aliança. Não sabia direito o que pensar. Queria falar com você, ouvir a sua voz. Liguei de novo. Nenhum retorno. Fui tomar um banho. Depois, ainda de toalha, comecei a procurar pelo apartamento um bilhete seu, uma explicação, nem que fosse mínima. Não encontrei. Lembrei das suas palavras no dia em que eu fui viajar: “quando você voltar, eu não estarei mais aqui”. Você tem muita coragem. O que eu tenho para lhe dizer? Não sei exatamente. Que a nossa separação foi devastadora para mim. Acredito que você fez tudo de caso pensando.

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