Jung, como me acalenta saber que você e outras pessoas já passaram por essa jornada antes. Não sei o que faria sem os seus ensinamentos.
“O diabo é a soma da escuridão da natureza humana. Aquele
que vive na luz se esforça para ser a imagem de Deus; aquele que vive na
escuridão se esforça para ser a imagem do diabo. Pelo fato de eu querer viver
na luz, o sol desapareceu pra mim quando eu toquei as profundezas. Era escuro e
aquilo parecia uma serpente.
Uni-me com aquilo e não o subjuguei. Tomei pra mim a parte
da humilhação e subjugação, e assim incorporei a natureza da serpente. Se eu
não tivesse me tornado como a serpente, o diabo, a quintessência de tudo que é
‘serpenticice’, teria mantido esse poder sobre mim. Isso teria dado ao diabo
meu pulso e ele teria me forçado a fazer um pacto com ele, da mesma maneira
como ele astuciosamente enganou Fausto. Mas me antecipei a ele me unido com a serpente,
assim como um homem se une a uma mulher.
Então tirei do diabo a possibilidade da influência, que só
pode passar através da própria ‘serpenticidade’ de nós mesmos, e que nós
frequentemente relegamos ao diabo ao invés do próprio Mefistófeles ser Satã,
tomado com minha ‘serpenticidade’. O Satã é a própria quintessência do mal, nu
e por isso sem sedução, sem nem mesmo esperteza, mas pura negação sem força de
convencimento. Assim eu resisti à sua influência destrutiva, peguei-o e
segurei-o firme. Seus descendentes me serviram e eu os sacrifiquei com a
espada.
E assim construí uma estrutura firme. Através dela ganhei
estabilidade e longevidade e pude suportar as flutuações do pessoal. E então o
imortal em mim está salvo. Atraindo a escuridão do meu outro mundo para dentro
do dia, esvaziei meu outro mundo. Assim as exigências dos mortos desapareceram,
assim que foram sendo satisfeitas.
Não sou mais ameaçado pelos mortos, desde que aceitei suas
exigências e assim aceitei a serpente. Mas por causa disso também botei algo
dos mortos no meu dia. Mas foi necessário, uma vez que a morte é a coisa mais
duradoura de todas, aquilo que não pode nunca ser cancelado. A morte me dá
durabilidade e solidez. Todo o tempo que quis satisfazer somente minhas
próprias vontades, eu era pessoal e por isso vivia no senso do mundo. Mas
quando reconheci as exigências dos mortos em mim e as satisfiz, entreguei meus
esforços pessoais anteriores e o mundo teve que me aceitar como um homem morto.
Um enorme frio vem para aqueles que no excesso de seus esforços pessoais
reconheceram as exigências dos mortos e buscam satisfazê-las.
Enquanto ele se sente como se um veneno misterioso tivesse
paralizado a qualidade de vida de suas relações pessoais, as vozes dos mortos
permanecem silenciosas no seu outro mundo; a ameaça, o medo, e a ansiedade
cessam. Tudo o que anteriormente aparecia faminto nele não mais vivia nele no
seu dia. Sua vida é maravilhosa e rica, já que ele é ele mesmo. Mas aquele que
sempre só quer a graça dos outros é feio, porque ele mutila a si mesmo. Um
assassino é aquele que quer forçar os outros à bem-aventurança, uma vez que ele
mata seu próprio crescimento. Um tolo é aquele que extermina seu amor por causa
do amor. Esse é pessoal para o outro. Seu outro mundo é cinza e impessoal. Ele
se força sobre os outros, e por isso é amaldiçoado a forçar ele mesmo sobre ele
mesmo em um nada frio. Aquele que reconheceu as exigências dos mortos baniram
sua feiúra do outro mundo. Ele não se impõe forçosamente sobre ninguém, e vive
sozinho na beleza e fala com os mortos. Mas chega o dia quando as demandas dos
mortos também são satisfeitas.
Se então perseveramos na solidão, a beleza se apaga para
dentro do outro mundo e a terra perdida aparece nesse lado. Uma fase negra
aparece depois da branca, e Paraíso e Inferno estão pra sempre lá.” Carl Jung, Livro Vermelho
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