Naquela noite eu estava exausta de tanta briga, foi por isso
que eu fui até a sua casa e lhe disse: “você manda em mim”. Evidentemente foi pouco.
O que para mim era imenso, para você era quase nada. Com o calculismo típico das pessoas impiedosas, você sorriu
com o canto da boca e cinicamente aguardou. Por meses esperou, não por qualquer
frase que eu poderia ingenuamente vir a proferir, mas pela frase que você projetou. Agora, nua e humilhada pelas extenuantes repetições, digo o que você sempre quis ouvir: “sim, eu me submeto a você.”
Durante muito tempo eu duvidei da minha natureza, mas ontem uma anjinha anunciou: você é um ser, não um ser-viente, mas um ser-vivente, feita da água do mar e da areia, soprada pela brisa e queimada pelo sol. Seu brilho é de estrela e seu colo de lua, disse ela, olhando nos meus olhos e sorrindo.
Em sonho me disseram: “espere o telefone tocar. Regra número
um”. Acordei e, três horas depois, o celular soou: "je reviens". Estupefata, pensei: eterno
retorno. YinYang. Inviolável.
Preta Velha, desculpe a minha demora em aceitar o seu cachimbo, mas com a sua sabedoria, você há de
entender que, no mundo de hoje, sentar na cadeira de balanço e ficar dias a fio
se embalando sem fazer nada, caiu em desuso. Nós não apenas desaprendemos, como até nos culpamos quando este tipo de situação nos é apresentada. Grata por sua energia pois só
mesmo o seu colo para fazer com que Exu finalmente relaxasse e dormisse com os anjos.
“Depois de comer e beber, o Diabo sentiu-se cansado e deitou
sua cabeça no colo da avó, dizendo para ela lhe fazer um pouco de cafuné. Não
passou muito tempo e ele rapidamente adormeceu, roncando e respirando pesadamente.”
Os três fios de ouro do cabelo do diabo, irmãos Grimm
.... e um dia, cansado, o guerreiro para de andar e então percebe que
ao seu lado existe uma flor delicada e bela.
Hoje, pela segunda vez, o silêncio me pediu em casamento e
eu aceitei. Morf-eu, ele me disse. Morf-ina, respondi. E o céu inteiro festejou.
Os anjos tocaram sanfona e as anjas, viola.
O universo nunca disse para mim: escolha uma profissão. A sociedade foi que criou esse conceito, que o capitalismo exarcebou, ou melhor, reduziu, já que transformou todo mundo em trabalhador especializado. Na boa? Cansei desta referência de identidade que limita e sufoca. Ando totalmente sem saco para títulos, rótulos e afins.
Quando tinha 22 anos, escrevi esta frase num papel: e, de repente, a resposta para tudo é uma chave. Hoje confirmei o que eu intui há mais de 20 anos. Finalmente sentindo o giro lento e imperceptível da chave. Qual chave? A Chave. A que vira, que move, que dá a volta. Secreta porque está oculta, criptográfica porque decifra, única porque só ela encaixa. A Chave que é a resposta para tudo.
Tuesday, December 04, 2012
Iansã, minha orixá de cabeça, aproveita que hoje é o seu dia e corre lá chamar Jurema. Diga a ela que
já pode vir.