Vale do Capão, janeiro de 2013.
Quando num belo momento me dei conta de que Deus está, o tempo todo, tirando
sarro da minha cara, passei vários dias seguidos rindo. Literalmente. Na
verdade, não ri porque Deus é um cara gozador, mas sim porque cheguei à conclusão óbvia de que eu sou uma grandessíssima tola. É claro que Deus não veio para mim e
disse: Pat, lamento lhe dar essa notícia, mas a verdade é que você é uma tonta, uma anã de jardim. Claro que não foi assim. Deus é um cara engenhoso, acredite. Um professor que jamais dá o peixe. Ele fornece as pistas e deixa que você chegue à conclusão sozinho. Saca caça ao
tesouro? Foi desse jeito que ele fez comigo. Qual é o filme, Imagem&Ação, trivia, quiz show, conhece? Pois foi dessa maneira que ele conduziu esse meu aprendizado. Sabe coach, que continuamente responde perguntando? Isso mesmo. Parecia que eu
estava no show do Silvio Santos: uma nota musical, qual é a música? E eu, CDF que sempre fui (inutilmente, é claro), ia me esforçando tenazmente para
decifrar os enigmas que Deus ia me colocando. Não me pergunte quantos dias
passei neste cenário de Slumdog Millionaire. Com certeza mais do que três e provavelmente menos do que sete. Não só levando o quiz a sério, como me
levando muito a sério. A cada nível que eu ia avançando neste "game”, ia dizendo para mim mesma: Pat, como você é boa nisso. Incrível. Se alguém lhe visse agora,
decifrando com tanta diligência e presteza os enigmas do universo, seria capaz
de dizer que você é mesmo brilhante. Dias e dias nisso. E por que tanto empenho? Porque acreditei que, de alguma forma, iria obter a "chave" decodificadora dos mistérios. Ambiciosa,
eu? Sei lá, na hora tive a sensação de que eu poderia ter sido “a escolhida”. A gente
fica assistindo aos filmes hollywoodianos e acaba fantasiando essas histórias descabidas: “The Chosen”. Eu
mesma não posso acreditar que eu tenha me rendido à soberba tão facilmente. Mas
sim. Ou não. Talvez tenha sido falta do que fazer, afinal, 30 dias sozinha dá
pano para manga. Ou quem sabe tenha sido a ingenuidade de que eu poderia me libertar
do sufocante labirinto. Enfim, quando estamos ativos no jogo, muitas vezes esquecemos o motivo pelo qual entramos nele. Pois bem, dias a fio
nesse desafio esfíngico com Deus. Quando achei que estava chegando na resposta
final, quando já estava prestes a gritar Gooool, adivinha? Isso
mesmo. Habilmente Deus voltou para a primeiríssima pergunta, me mostrando que a resposta que eu havia dado tinha perdido o sentido e que era necessário achar um argumento novo para o mesmo questionamento. Lembra daquela carta que havia em alguns jogos de tabuleiro? Volte para a casa de origem e fique lá durante duas rodadas. Comecei a discutir com Ele: como? Não, Senhor. A
minha primeira resposta estava certa sim, continua certa e foi por isso que desencadeou todo um
raciocínio lógico consistente. Quando mencionei essas duas últimas palavras, finalmente cai em mim: tinha sido enganada. E o pior de tudo: por Deus. Aí uma caixa colorida
e gigantesca se abriu na minha frente e, de lá de dentro, saiu o Saci Pererê pulando. Ou um palhaço, se vocês preferirem. Ou o Coringa, o Zé Pelintra, o sorriso do gato de Alice. Gargalhando, retruquei: Deus, você é um trickster! Um menino peralta e
travesso que adora ter uma amiguinha para brincar! Você me pregou uma peça com seus enigmas! Você me fez correr atrás do
meu próprio rabo e eu cai nessa! Seu maluco, o que você quer é se divertir criando charadas. É tudo uma grande piada. Nossa, como eu sou besta. Não existe chave, talvez nem exista mistério. Eu sou uma boba, sempre compenetrada atrás de respostas. E continuei gargalhando profundamente por
horas, ouvindo, ao meu lado, a risada inequívoca de Deus.
No comments:
Post a Comment