O nosso inconsciente sabe. O nosso consciente, não só muitas
vezes não sabe, como frequentemente, duvida.
Tuesday, July 30, 2013
Wednesday, July 03, 2013
À beira-mar
Na balaustrada do Porto da Barra, Pat e Murakami tomam água de coco e conversam. O relógio da calçada marca 16:16, do dia 3 de julho de 2013.
Pat: Eu sei que você sabe.
Murakami: É, agora você sabe que eu sei.Pat: Você esteve lá.
Murakami: (sorri)
Pat: Tantas perguntas pra lhe fazer sobre o que acontece depois.
Murakami: O seu conterrâneo Raul já sentenciou:
"perguntas não vão lhe mostrar".
Pat: Verdade. Questionamentos inúteis. Digressões infinitas.
Mas queria perguntar mesmo assim. Mania.
Murakami: Você quer perguntar ou controlar? Tentar prever os acontecimentos para não ser surpreendida pelo processo de nada serve.
Pat: O que eu quero mesmo é dormir e
acordar na minha vida nova, como aconteceu com você.
Murakami: Nem se preocupe, está escrito.
Pat: Mas pode ser já?
Murakami: Ansiedade só atrapalha.
Pat: É que demora demais.
Murakami: Faz parte. Digo, a exaustão.
Pat: Por que?
Murakami: Com tantas perguntas, nem parece que também esteve
lá.
Pat: Estive, mas ainda não completei a volta.
Murakami: As minhas respostas não vão solucionar a sua equação.
Pat: Estive, mas ainda não completei a volta.
Murakami: As minhas respostas não vão solucionar a sua equação.
Pat: Desculpe. Preciso parar com este meu cacoete de jornalista. Acho que o processo seria
mais fácil se eu fosse japonesa.
Murakami (rindo): Seria diferente. Contudo, a ordem dos acontecimentos não mudaria.
Pat: Provavelmente teria menos pressa.
Murakami: O tempo não existe, já descobrimos.
Pat: Na floresta não. Mas estou de volta à cidade.
Murakami: O pior você já superou, o redemoinho.
Pat: Fiquei aliviada quando vi que o ‘toilet
bowl’ estava no último capítulo do seu livro. Isso me deu a sensação de que estou na
reta final. Mas tenho dúvida se, ao sair, fechei a entrada com a pedra. Será que vou ter que retornar?
Murakami: Só entra no redemoinho quem abriu a pedra. Só sai,
quem fechou.
Pat: Ufa! Acho que ninguém conseguiria viver com aquela entrada aberta eternamente.
Murakami: Nem o Aladim. Abriu e fechou. Invariavelmente.
Pat: Mudando de assunto, mas continuando no mesmo, hoje é aniversário do Kafka.
Murakami: Grande Kafka: "Fique sozinho em silêncio. Então o mundo se apresentará
desmascarado".
Pat: Assim como você, ele encontrou uma metáfora incrível para descrever a revelação que presenciamos.
Murakami: Durma e a sua metáfora virá.
Pat: Perdoe-me por insistir, mas, estou mesmo cansada de passar grande parte do meu tempo no inconsciente profundo. É possível acelerar o retorno? Acordar mais rápido?
Murakami: Lamento, não há nada a ser feito.
Pat: Isso aqui tá parecendo Esperando Godot.
Murakami: "Nothing to be done", além de um mergulho no mar. Topa?
Pat (sorrindo): Bora. Mas antes, queria lhe dizer uma coisa.
Pat: Sim, menino corvo.
Pat: Isso aqui tá parecendo Esperando Godot.
Murakami: "Nothing to be done", além de um mergulho no mar. Topa?
Pat (sorrindo): Bora. Mas antes, queria lhe dizer uma coisa.
Murakami: Pois não.
Pat: Obrigada por ter escrito este livro. Você diminuiu a minha solidão.
Murakami sorri: Quando entrar na água, feche os olhos e pense com toda a sua
força na sua nova condição. Ainda que não esteja bem certa do que significa,
diga: sou livre.Pat: Sim, menino corvo.
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