Você me mandou uma mensagem, respondi com uma pergunta. 30 dias depois chegou a sua resposta. Pensei: os contratempos, o caos da cidade, as implosões espaciais. As pessoas têm motivos. Principalmente hoje, as pessoas têm desculpas, quando não, culpas. Muitas culpas. A dificuldade para fabricar dinheiro. Aos montes. Acontece. No seu recado, uma alegria: vamos nos encontrar. Retroceder ao tempo em que a pupila valia mais do que um clique. Que avanço! A passos largos pular o buraco tecnológico que nos separa e divide. Agora. Neste exato momento nos ver, falar. Que tal um chá, um café, um abraço? Que deleite essa perspectiva humana. Mas sabe como é, as listas-pra-fazer, as prioridades. Agora não posso. Cerveja pela manhã pega mal. As regras. Alguém disse. Eu disse. À noite sim, à noite vamos, à noite quando não haverá mais tarefas. Nem tarefas e nem chá porque a noite você não pode. Deixamos para a próxima semana. A combinar. Voltamos para a rede, para o que nos salvará dos extermínios, da solidão e da bomba final. Não foi o que disseram? Que a ciência significa progresso? Você disse. Ou disse que disseram. Minto, você disse iluminação. Ah, meditação. Justo. Cada um no seu canto, fechando os olhos, sem interagir com ninguém. E os dias passando, como sempre passam nos últimos tempos, rápido demais, vazios demais, abarrotados de a-fazer, de amigos eletrônicos. Não nos encontramos. Ainda. Amanhã certeza. Certeza que em breve iremos transpor as barreiras do mundo contemporâneo e superar o desafio do século: ajustar os nossos ritmos. Achar um horário mútuo, uma agenda conjunta. Queremos. Você, eu, todos nós queremos que sejamos humanos o bastante para sermos reais, nos darmos as mãos, perceber a respiração quente do corpo. Sem pressa, afinal, que bobagem essa ânsia nossa para que a humanização da humanidade aconteça. Que tolice! Vamos primeiro ao exemplo que nos progride, ao computador que já nasceu iluminado. Alguém disse agride? Quem? 30% da população mundial sofre de ansiedade, sendo que o Brasil tem a maior taxa de transtorno de ansiedade do mundo. Quem se importa? As baratas. Talvez elas que assistem a violência nuclear reparem. Quem sabe elas que suportam a desumanidade percebam. Elas que não se odeiam e não se matam entre si, que superam a devastação da natureza tomara que se condoam. Oxalá esta, determinada por nós como subespécie perigosa para a saúde de homens e mulheres, tenha para a nossa sociedade um conselho, um consolo, uma bússola. Penso. Há esperança.
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