“As histórias que estão acontecendo e as que vão acontecer são as mesmas já acontecidas um dia. Assim acreditam os africanos iorubás. Para eles tudo na vida se repete, nada é novidade. Quando se conhece as histórias do passado é bem fácil adivinhar o presente e o futuro. Para isso basta saber qual, entre tantas histórias do passado é aquela que estamos revivendo." Reginaldo Prandi, em Oxumarê, O Arco Íris.
Hoje tive a felicidade de assistir "Áfricas" e viajar em várias histórias. Relatos remotos e, ao mesmo tempo, bem presentes; distantes, mas muito próximos. Através de danças, cores e músicas, o Bando de Teatro Olodum me transportou para a atmosfera mágica e lúdica dos contos da cultura africana, encenando narrativas que ultrapassam séculos e continentes. Lendas como esta, de Obaluaiê e Iansã:
"Chegando de viagem à aldeia onde nascera, Obaluaiê viu que estava acontecendo uma festa com a presença de todos os orixás. Obaluaiê não queria entrar na festa com vergonha de suas feridas causadas pelas doenças. Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angústia do Orixá, cobriu-o com uma roupa de palha, com um capuz que ocultava seu rosto doente, e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos. Apesar de envergonhado, Obaluaiê entrou no xirê, que estava animado. Os orixás dançavam alegremente com suas equedes, mas ninguém se aproximava dele. Todos tinham nojo, menos Iansã.
Altiva e corajosa, acompanhando tudo com o rabo do olho, ela esperou até que Obaluaiê estivesse bem no centro do barracão. Chegou então perto dele e soprou suas roupas de palha com seu vento. Neste momento de encanto e ventania, as feridas de Obaluaiê pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão. Obaluaiê transformara-se num jovem belo e encantador.
Em recompensa pelo gesto de Iansã, Obaluaiê dá a ela o poder de também reinar sobre o mundo dos espíritos, partilhando a possibilidade única de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.
Viva o poder da cura, da continuidade e da existência!"
Vá lá! Bando de Teatro Olodum
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