Wednesday, May 05, 2010

Chega de esperar Godot


(Para os meus amigos virginianos no signo ou na atitude)

Eu sempre fui uma daquelas pessoas perfeccionistas. Agora, felizmente,  bem menos. Não por opção própria. Mas porque o tempo ensina.

O pior do perfeccionista é a auto-exigência, logo transformada em auto-crítica. É uma carga chata. Multiplique este peso ao longo de vários anos. Não há quem suporte. Por isso, em algum momento, quando a exaustão, de fato, bateu, simplesmente percebi que a "tentativa de ser perfeita e fazer perfeito" era a opressão mais insensata que carregava na minha vida. Confesso que queria ter me livrado deste vício completamente e me tornado uma total falha humana. Entretanto, os defeitos de fabricação não te abandonam assim, de um dia para outro. Eles são resistentes. Renitentes mesmo.

Além do perfeccionismo em si, o perfeccionista possui várias imperfeições. A pior delas é que ele tem orgulho desta inútil tentativa e continuamente alimenta esta busca. Ele fica sempre à espera de Godot. Aguardando que algo seja melhor. Venha melhor. Aconteça melhor. Tentando ser melhor. Fazer melhor. Ele fica nesta absurdez. Nesta inutilidade. Esperando o impossível: o perfeito. E, exatamente como os personagens no final da peça, que se negam a sair de cena, mesmo já sabendo que Godot não vem, o perfeccionista desentende a chegada do fim. Ele continua ali. Imóvel. Inerte. Ele paralisa. Apenas, e somente apenas, porque se acostumou àquele espaço: o da expectativa. Um lugar estéril que impede a revelação espontânea.  Por isso eu digo: chega de esperar Godot.

2 comments:

Unknown said...

Patrícia, adorei este texto; porque me identifiquei demais com ele. Infelizmente eu ainda não consegui me livrar de muitas coisas da mania da perfeição... mas como vc mesma disse... o tempo ensina. Mega bjks, Rê

Alexandre Lucas said...

Enriquecedor e verdadeiro, além de uma pitada de libertação ;)