(Para os meus amigos virginianos no signo ou na atitude)
Eu sempre fui uma daquelas pessoas perfeccionistas. Agora, felizmente, bem menos. Não por opção própria. Mas porque o tempo ensina.
O pior do perfeccionista é a auto-exigência, logo transformada em auto-crítica. É uma carga chata. Multiplique este peso ao longo de vários anos. Não há quem suporte. Por isso, em algum momento, quando a exaustão, de fato, bateu, simplesmente percebi que a "tentativa de ser perfeita e fazer perfeito" era a opressão mais insensata que carregava na minha vida. Confesso que queria ter me livrado deste vício completamente e me tornado uma total falha humana. Entretanto, os defeitos de fabricação não te abandonam assim, de um dia para outro. Eles são resistentes. Renitentes mesmo.
Além do perfeccionismo em si, o perfeccionista possui várias imperfeições. A pior delas é que ele tem orgulho desta inútil tentativa e continuamente alimenta esta busca. Ele fica sempre à espera de Godot. Aguardando que algo seja melhor. Venha melhor. Aconteça melhor. Tentando ser melhor. Fazer melhor. Ele fica nesta absurdez. Nesta inutilidade. Esperando o impossível: o perfeito. E, exatamente como os personagens no final da peça, que se negam a sair de cena, mesmo já sabendo que Godot não vem, o perfeccionista desentende a chegada do fim. Ele continua ali. Imóvel. Inerte. Ele paralisa. Apenas, e somente apenas, porque se acostumou àquele espaço: o da expectativa. Um lugar estéril que impede a revelação espontânea. Por isso eu digo: chega de esperar Godot.
2 comments:
Patrícia, adorei este texto; porque me identifiquei demais com ele. Infelizmente eu ainda não consegui me livrar de muitas coisas da mania da perfeição... mas como vc mesma disse... o tempo ensina. Mega bjks, Rê
Enriquecedor e verdadeiro, além de uma pitada de libertação ;)
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