Eu queria ter a alegria da minha falibilidade, da minha mediocridade, da minha limitação. Porém, confesso que quando sou acometida por essas realidades, um mal-estar imediatamente toma conta de mim. Porque eu temo. Um medo profundo me engole, como um radar que me diz: lugares proibidos. Como se entrar nestes espaços fosse caminhar em direção a um poço sem fundo, de onde nunca mais poderei sair. Sendo assim, evito. Desvio com todas as minhas forças e com as forças que nem tenho. E desviando, esquivando-me de mim mesma, me exauro. Paradoxalmente digo, felizmente me exauro, porque é na exaustão, na minha total ausência de vontade própria, que sou atingida pelo fato de que também sou feita do que continuamente nego. É neste profundo esgotamento que balanço a cabeça, apenas, e admito: sou ordinária. Gostaria muito que fosse uma aceitação, mas não. É um nó, uma constatação angustiante. Uma frustração dolorosa. É por isso que queria ter a alegria da minha pequenez. Queria me sentir feliz por ser trivialmente comum, por perceber que ser comum é uma possibilidade e não uma determinação. Porque a verdade é que somos todos comuns, sem sê-lo. Queria naturalmente compreender que a busca insana por saberes acaba me afastando do mais autêntico e real em mim. Queria silenciosamente acatar a minha ignorância porque dela brota uma sabedoria inata e genuína. Do fundo do meu coração, queria suportar o fato de que a minha vastidão só será possível quando eu finalmente for compassiva o bastante para acolher a minha inexorável mediocridade.
Thursday, August 19, 2010
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2 comments:
Pat, cada um sabe de si e receita não há.... acho que todos nós somos acometidos por isso... para mim, utilizo o pensamento abaixo para sair e tentar me manter em um clima no mínimo aceitável:
"Amor fati" [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor. Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja 'desviar o olhar'! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz sim." (F. Nietzsche)
quem me dera ser, e em sendo quem me dera reconhecer, e em reconhecendo quem me dera permanecer, e em permanecendo quem me dera entender, que quando sou, reconheço, permaneço estou de fato encontrando o sentido, estou encontrando a verdade que diz que de forma inexorável um dia devolverei aquilo que me foi emprestado...
doc...
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