Eu sei que você me acha bem resolvida, segura, articulada, mas, antes que você se decepcione, preciso avisar logo: é tudo fachada. Dentro de mim, tem um mundo desmoronando. Bem, queria te falar isso mas não queria, porque o que eu quero te dizer mesmo é outra coisa. Apenas ganhei tempo porque não estou conseguindo sentir o que eu sinto, que dirá escrever sobre a nossa conversa de ontem. Pausa. Vou começar de novo. Depois que desliguei o telefone, fiquei me perguntando porque você me ligou. Provavelmente porque você queria jogar conversa fora. Simples assim. Para você, acho que foi apenas isso mesmo. Eu sei. A complicada aqui sou eu. Pra mim, nada é tão reto, muito menos os relacionamentos. Não, eu não ligaria para alguém por quem estou interessada apenas por ligar. Mas tem gente que faz isso, ou deve ter, e talvez você seja uma dessas "gentes". Para mim, telefonemas, mesmo que "simples", mexem muito comigo. Quer dizer, se fosse de outra pessoa, claro que não. Mas não foi o de outra pessoa. Foi o seu. E se você liga e fala "oi", já me sacode. Bem, ontem você me ligou e falou muito mais do que oi. Longamente mais que oi. Isso me levou a cogitar muitas besteiras por aqui. De tanto elucubrar, matutei que você me chamou para fazer joguinho comigo. Sim, um sexto sentido me diz que você tem todo um plano secreto para me envolver sem se envolver... pode ser? É, eu sei, eu entro na esfera das probabilidades irreais. Acontece. Porém, pelo real ou pelo irreal, preciso que você saiba, de uma vez por todas, o impacto do seu telefonema em mim: eu não estou mais dando conta dessas coisas. Que coisas? De joguinho de sedução, de esconde-esconde, de subterfúgios. Em tempos remotos, eu até me divertiria com essa espécie de artimanha. Num passado mais recente, eu colocaria a minha armadura e assumiria que nada me atinge. Porém, agora, na minha atual situação, a minha desproteção é gigantesca. Acredite. Dentro de mim sinto uma fragilidade indizível. Mesmo que aparentemente o meu tom seja assertivo, que as minhas palavras sejam bem colocadas, que eu seja direta, no fundo, uma qualidade puramente indefesa me governa. Por isso, entenda, não estou mais a fim de pessoas que querem manipular o outro apenas para se vangloriar. Ou se defender. Por favor, perceba, eu ando tão quebradiça que só de você respirar do outro lado do fio eu desmonto. É sincero. Talvez para você sejam banais, o telefonema, a conversa, a respiração. Para mim, é diferente. Eu sinto. Portanto, eu te peço: não me ligue mais somente para me cutucar. Da próxima vez, se quiser, bata na porta. Isso, bata na porta. E entre. Com todas as consequências que o seu sentimento por mim pode ter.
Wednesday, August 25, 2010
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
3 comments:
se fosse vc com toda a percepção clara e o sexto sentido certeiro que vc tem da roubada que te espera, não mandava bater na porta não... rsss, run away"
Você daria um bom psicólogo...
Hhahaha
Daria mesmo!
Post a Comment