Tuesday, December 28, 2010

Monday, December 27, 2010

“Se o confronto com a sombra é obra do aprendiz, o confronto com a anima é obra-prima." Jung


Salvador, dez 2010.


Diacho! Tanta sombra e animus para integrar. Tanta anima para reverenciar. Às vezes, dá uma vontade danada de desistir, sei lá, de abandonar. Mas agora, nem pelejando o bicho me larga mais. Vixe! Haja colo para amparar, amor para continuar, Senhor do Bonfim para me guiar, brisa para suspirar, lua para confortar. Haja este tal deste Self me esperando em algum lugar. 


Wednesday, December 22, 2010

Sandro Barbosa do Nascimento

Quem me lê já percebeu: eu sinto uma necessidade imensa de compreender as pessoas e as coisas de uma forma mais profunda. Eu gosto de questionar a superficialidade. É de mim. Olho a casca grossa que se formou nas muitas feridas, inclusive nas minhas, e logo tento fechar os olhos para mergulhar na carne que está ali. Cada vez mais, quero ir além dos julgamentos chapados e chegar na vida que pulsa por trás das manifestações defensivas ou ofensivas, tanto em mim quanto no outro.  

No início desta década, ocorreu o Seqüestro do Ônibus 174. Todos conhecem essa história. Sandro do Nascimento entra no ônibus 174, no Rio de Janeiro, e ameaça matar os passageiros. Por quase 4 horas, o seqüestro é transmitido ao vivo pela TV. Ele ordena que os reféns deitem no chão e chega a simular que mata um deles. Quando desce do ônibus, usando como escudo a professora Geisa Gonçalves, um soldado atira, mas quem acaba morrendo com 4 tiros é a refém. Sem ferimentos, Sandro é asfixiado e morto na viatura.

Quando ouvimos este relato, sem conhecer a trajetória de Sandro, muitos pensam: bandido deve morrer mesmo. É uma ótica. Eu, quando vejo alguém que comete este tipo de crime, faço a mesma reflexão que o documentário "Ônibus 174" fez: quem é a pessoa por trás deste ato? E, após assistir a este filme e entendendo o percurso do Sandro, acabei me perguntando como foi que ele não fez isso antes, tão grotesco foi o processo de exclusão social que ele sofreu desde a infância. 

Assim como no livro de Dostoievski, Crime e Castigo, cada vez mais passo a compreender que, muitas vezes, o maior castigado é aquele que comete o crime. Uma punição intra-psicológica que se arrasta por um longo período ou por uma vida inteira. Um fantasma, uma loucura, um exílio que assombra e não encontra perdão interno.

Neste final de ano, vou reconhecendo as minhas próprias máscaras e tentando me encontrar além das minhas atitudes dicotômicas de defesa e ataque que certamente prejudicam tanto a mim quanto aos outros. Vou tentando me des-soterrar e me achar atrás do meu esconderijo, da minha prepotência, da minha vaidade, da minha covardia. Das minhas palavras articuladas, das minhas manipulações e do meu discurso pronto. E, quanto mais encaro a minha sombra, mais tenho vontade de compreender o outro assim: sem julgamentos. Ainda é uma tentativa, mas me sinto bem com ela. Finalizo 2010, acreditando que é no âmago que está a beleza e a originalidade de cada um. Fazendo um exercício aberto de olhar a mim e ao outro além da superfície visível. 

Seqüestro do Ônibus 174, 12/06/2000.

Tuesday, December 21, 2010

Metáfora

Eu juro que estava fazendo um esforço sincero para sair da minha utopia, mas aí, veio ele e me transportou de novo para este lugar tão confortavelmente macio e quente que é a minha fantasia.

Eu te peço, não me julgues. Os meus algozes já me perseguem sem trégua. Falam na minha mente noite e dia, insistindo na mesma ladainha. Ai meu Deus, quanta repetição. De ti queria colo. E se colo não tiveres, dá-me a tua mão. E se a mão faltar, me envies uma maldição qualquer. Quem, como eu, na terra do desamparo vive, aceita o que na mesa calhar. E de pura fome, qualquer coisa come.

Monday, December 20, 2010

Já que alguém citou Lily Braun

De antemão declaro: sou feminista!  Sou completamente a favor de que a energia feminina (yin) seja nutrida tanto na mulher quanto no homem.  Dito isso, preciso esclarecer: eu não compactuo com pessoas que ficam insultando o outro publicamente. Com qualquer homem ou mulher que olha para o lado e diz: você é um machista chauvinista ou você é uma mulher feminista recalcada. O espaço da dignidade feminina ou masculina, na minha opinião, exclui ficar vigiando e punindo quem está ao seu lado.

Por que digo isso? Ontem, estava com alguns conhecidos e uma das mulheres, que se dizia feminista, ficou massacrando verbalmente um cara, até ele concordar publicamente que era um homem chauvinista. Fiquei besta. Não importa se isto é feito por um homem ou uma mulher, agredir o outro é um ato machista porque expressa uma energia yang descompensada. É acreditar que críticas duras e impositivas vão fazer com que alguém tome consciência e acorde. A meu ver, este tipo de atitude desdenha o feminino e reforça o próprio machismo porque, no final das contas, assume um paradigma masculino da nossa sociedade de que a energia censora (yang) é mais eficaz para conscientizar pessoas e promover uma mudança do que a energia yin. Sendo assim, para mim, feminista mesmo é aquele(a) que acredita na energia yin enquanto força transmutadora e não quem ataca ou censura os homens chamando-os de machistas.

Agora pergunto: você acha mesmo que um homem é machista por puro hobby? Outra pergunta: você acha que uma mulher que se submete ao destrato de um homem não sabe que isto está equivocado? Você acredita mesmo que uma pessoa que fuma não sabe que cigarro faz mal a saúde? Claro que racionalmente todos nós sabemos que tudo isso é errado: fumar, ser machista, se submeter ao machismo. A sabedoria popular reza "em mulher não se bate nem com uma flor" e, na lógica, entendemos perfeitamente o que isso quer dizer. O ponto é: nós não somos seres lógicos e racionais. Somos emocionais! Ficar punindo um homem ou uma mulher por ele ou ela serem machistas  não vai mudar a situação. Acredito até que a opressão só vai aumentar a carga masculina que está circulando, em detrimento de uma energia mais feminina.

Do meu ponto de vista, a questão do machismo é muito mais profunda. Quando um homem machista desrespeita uma mulher, acredite, antes disso, internamente ele já desrespeitou há muito a sua própria energia yin. E ele sofre. Porque a energia feminina dentro de um homem é responsável por sua criatividade, sua entrega, sua própria aceitação. Quando um homem é machista com uma mulher isto apenas traduz externamente o algoz que ele possui internamente. Doloroso algoz que recrimina a sua energia yin. Infelizmente isto também é válido para uma mulher. Ela aceita o descaso com o feminino porque internamente castiga a sua própria energia feminina.

Sempre lembro de um livro que li: "Change or Die". Ele descreve pessoas à beira da morte que precisam mudar as suas atitudes para que possam sobreviver. E sabe o que acontece? Mesmo sabendo que vão morrer se não mudarem, estas pessoas não conseguem se livrar dos seus condicionamentos. Por que? Porque a causa de um condicionamento não pode ser curada com argumentações lineares. É preciso chegar na raiz do problema.

De verdade, eu fico perplexa diante da nossa superficialidade. Nós preferimos focar na crítica (que é válida quando feita de forma construtiva), mas esquecemos de que o que realmente importa é nutrir o feminino tanto no homem quanto na mulher. No meio deste extenso asfalto, precisamos de menos britadeiras e mais flores. Menos ruído e mais silêncio. Mais colo e menos repressão. Como disse a poeta Cora Coralina, para mim, uma grande feminista: "Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta.". É preciso que sejamos cada dia mais feministas nutrindo e compartilhando a energia yin que existe dentro de nós. Juro que estou tentando fazer a minha parte. E se eu fui assertiva demais neste texto, acredite, é só um desabafo. Ao vivo, eu sempre prefiro um abraço.

Sunday, December 19, 2010

Homem, descaradamente, amo-te.
De prontidão, te aceito.
Dá-me a tua costela, Adão.

Eparrei, Margareth!



Elegibo

Saturday, December 18, 2010

Quem sou eu?

Desenho do Akira Kurosawa, SP nov. 2010. 


Foram tantas as tentativas desesperadas e obsessivas para me definir que o quantificável se perdeu no incontável. Num dia qualquer, por pura exaustão, eu desabei e cai. Tombei em mim. Neste espaço, amplo e infinito, o formulado era inútil e insensato. Então chorei. Gritei. Voei e me arrastei. Calei. E no silêncio, ouvi. De cabeça baixa, eu finalmente vi.


Meu progresso na aula de canto

Friday, December 17, 2010

SeverinaSeverino


se eu fosse um homem
eu seria tu, severino
e se fosses uma mulher
tu serias eu, severina

por isso
na minha severina a tua
metade
no teu severino o meu
espelho

Tuesday, December 14, 2010

Coisas que aprendi em 2010

Moçambique, 2010.


Aprendi que:

tentar mudar o outro é covardia ou prepotência. O que dá no mesmo.

por trás dos meus condicionamentos arraigados a única coisa que existe é medo. Nada mais.

o pior mau olhado é aquele que coloco em mim mesma.

não vale a pena ter medo de galinha (eu tinha!)

somos loucos. Preferimos o isolamento à entrega.

os adultos têm vergonha de falar a palavra "pum" e as crianças adoram!

colocar expectativa no outro não é burrice, é auto-abandono.

o big-bang reverso existe e a isso chamamos de essência.

as contradições só podem ser reconciliadas na profundidade. Na superfície somos todos irremediavelmente incoerentes.

quanto mais eu fujo da minha sombra, mais ela gruda em mim.

só quando você desiste de você mesmo é que a transformação realmente começa. Sabe aquela máxima: "é morrendo que se vive"... pois é.

a ditadura do "positive thinking" é uma das coisas mais cafonas dos últimos tempos.

o espermatozóide possui uma mobilidade ativa e o óvulo é incapaz de se mover. E nenhuma cultura ou modismo vai mudar isso.

eu me acho cada vez mais ridícula. Ponto.

todo mundo que mete o pau no facebook continua lá, buscando gratificações imediatas.

o oposto do amor não é o ódio e sim o poder.

E para 2011: Foco, Pat, foco!

A condição humana me olha na minha mais pura fragilidade.
Penso em reagir e um leve sussurro me diz: cálice.
Serena, escuto o silêncio do útero. Não falo.
Óvulo imóvel permaneço.
Receptora, suavemente calo.

Monday, December 13, 2010

A menina

Pelo caminho ela ia. Sozinha ia. Passo-a-passo, andava. Sempre em frente, caminhava. Em direção ao horizonte longe e vazio, algo dentro dela a empurrava. Compenetrada e solitária, a estrada percorria. Sem olhar para os lados, a sua sina a impelia. A andar, toda hora, todo dia.  Nas costas, a sua mochila de escola carregava. Sem muita razão e sem muito porquê, ela caminhava. Sem pai, sem mãe, sem irmãos. Só estrada, só caminho, só avançava. Metro-a-metro, sem interrupção, mecanicamente, marchava. Dela pouco se sabia. Uma menina, por certo, que mesmo com o passar do tempo, a mochila não tirava. Uma vez, ela suspirou e disse que o seu destino era seguir, sem parar. E sem parar continuava. Ensimesmada e desamparada, andava.

Eu tenho um segredo meu para lhe contar. Só pra você que tem o seu bem-querer em mim. Venha aqui, pertinho. Quero lhe falar no seu ouvido.  Segredo que se preza, como é este meu, só pode ser contado bem baixinho. E com um pouquinho de suspense, para que o coração, de antemão, se alegre. Já vou dizer, mas antes, suspire comigo. Vamos juntos até o oculto, onde os segredos vivem. Ouviu? :) Agora dentro de você tem um pedacinho de mim. Secreto e inviolável.


Sunday, December 12, 2010


Sentada na cadeira de balanço, ela pensou: cansei dos jogos de sedução e das manobras artificiais. Por favor, ninguém mais tente me conquistar. Parem com o festival de que somos todos tórridos e incríveis. Tudo isso é alimento podre para as carapaças de isolamento. A generosidade do incondicional me acariciou e, sem trapacear, eu me rendo ao que é natural, reto e puro. O que é verdadeiro me abraça com a sua permanência sincera.


Possuída por um jeito mordaz, ela me disse: "você sempre se apaixona pelos líderes prepotentes disfarçados de bons moços" e eu respondi: estranho, pensei que eles é que se apaixonassem por mim...

Pina Bausch por Wim Wenders


PINA - Tanzt, tanzt, sonst sind wir verloren from neueroadmovies on Vimeo.

Saturday, December 11, 2010

Transitando na Sombra II


quanto maior o gigante, maior a sombra * quanto mais profundo o abismo, mais alto o vôo * quanto maior a fragilidade, maior a força * quanto mais profunda a raiz, maior a árvore

Transitando na Sombra

A capacidade que eu tenho de me auto-destruir é proporcional à capacidade que eu tenho de me de auto-criar? Como será que muda a chave?

***
"Por que você me pergunta? Perguntas não vão lhe mostrar..." Raul Seixas





Friday, December 10, 2010

Ai, Bahia. Que saudade de você!




Ai, Bahia, que vontade da sua areia, do seu mar, da sua maresia que gruda em mim, do seu afeto incondicional. Que desejo da sua magia, da sua malemolência, do seu dendê, da sua preguiça sem culpa. Quanta saudade do seu calor que sempre me acolhe, do seu jeito que me desprende, da sua candura profana. Ah, sagrada Bahia, que doideira dos seus sabores e sons, de chegar aí e me entregar. A você.

Monday, December 06, 2010

Acorda, Alice!

Ela queria sair dali mas ele puxou o braço dela, obrigando-a a falar. Então ela reagiu: "você quer mesmo voltar a este assunto? Eu já entendi o seu ponto de vista. E sim, eu concordo com você. Tá satisfeito agora? Era isso que você queria? Que eu concordasse com você. Pronto. Concordei. Podemos finalmente encerrar este tema por aqui? Já disse. Eu assumo: tenho mesmo uma tendência a utopias afetivas. Eu idealizei você. Romantizei cinematograficamente. Mas depois de assistir a tantos filmes e ler dezenas de livros, você queria o quê? Já. Eu já absorvi os seus alertas. Todos. Mas, por favor, as culpas não jogue-as todas em cima de mim. Vai ver que é coisa de mulher... sei lá. Tem o movimento romântico,  as novelas e, em algum lugar, também tem de mim. Eu não quero mais falar disso. Chega. Sim, entendi. Você é quem você é. Não quer se encaixar na minha projeção e nem virar o modelo de homem que eu fantasiei. Justo. Você quer ser respeitado em seus limites e está cansado de ser sufocado por cobranças. Honesto. Demorou mas compreendi. A vida ensina. A gente bate cabeça, bate, bate até que todos os mitos sejam estourados na convivência. E, mesmo que eu queira criar novos, vem o cotidiano e me acorda. Vem alguém, como você, e me chacoalha. Difícil, mas obrigada".

Sunday, December 05, 2010

as calotas não me protegem do sol


Belíssimo o livro da minha querida amiga Paula Corrêa, com ilustrações da Amanda Justiniano e encadernado artesanalmente no Projeto Tear. Quem quiser adquirir um exemplar desta delicada obra é só mandar um e-mail para essa escritora profunda e sensível que é a Paulinha: paula33@gmail.com

"Não existe prova concreta que ateste que sou real. Sou translúcida e não sei exatamente quem me vê". Paula Corrêa



Insônia

Saturday, December 04, 2010

Homem não Chora

dormi com vontade de nascer de novo e quando despertei você continuava em mim. que bom poder ser outra, tendo sempre você aqui.

Friday, December 03, 2010

Vento


eu queria ser uma brisa leve, mas parece que a natureza me quer assim: ventania. respiro, respiro e nada muda. ou muda por alguns segundos e tudo volta ao mesmo lugar. intenso.

***

eu canso de mim. e quando os outros me cercam, eu canso de mim no outro. mas também estou exausta da solidão. tantas contradições. e eu não me suporto mais.

***

eu me queria plantada, mas é tudo tão errante aqui dentro. por isso, qualquer vinho barato me compra. mas não me leva.

***

ar. é só o que eu preciso. abraçar o vento. mas ele foge do meu beijo, mesmo correndo atrás de mim. venha um dia e me carregue. misture o seu desejo e a sua entrega na minha boca.


Farsa

Às vezes eu me sinto uma farsa. É como se todo mundo fosse, em algum momento, descobrir que eu não sou eu. Porque querer ser eu é querer, não é ser. Olho a rosa e vejo como ela apenas é. É rosa. Eu queria não ter nenhuma pretensão do querer. Suspeito que no não-querer eu seria invadida pelo meu eu em mim... sus-peito...