Sunday, October 31, 2010


No amor sou completamente marxista: só acredito na práxis. É aí que ocorre a verdadeira revolução.



Como é fácil amar uma projeção. O difícil é entender que isto não é amor. É narcisismo.


Saturday, October 30, 2010



RAZÃO = um grande raso




Ela sentou na poltrona e, enquanto abria o vinho, me contou: "Sabe que frase ele colocou no FB? Você pra mim é problema seu". Gargalhamos as duas.

Thursday, October 28, 2010

Dom Quixote

Salvador Dali


“Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca.”

Miguel de Cervantes

Wednesday, October 27, 2010

Encontrei Nietzsche no Atacama

Atacama, out. 2010.

"O homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem: uma corda por cima do abismo. Uma travessia perigosa, temerário caminhar, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é de grande valor no homem é o fato de ser uma ponte e não um fim; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um crepúsculo." -  Nietzsche, Assim falou Zaratustra, 1883


“Der Mensch ist ein Seil, geknüpft zwischen Tier und Übermensch, - ein Seil über einem Abgrunde. Ein gefährliches Hinüber, ein gefährliches Auf-dem-Wege, ein gefährliches Zurückblicken, ein gefährliches Schaudern und Stehenbleiben. Was groß ist am Menschen, das ist, dass er eine Brücke und kein Zweck ist: was geliebt werden kann am Menschen, das ist, dass er ein Übergang und ein Untergang ist.” Nietzsche, Also sprach Zarathustra, 1883

Monday, October 25, 2010

AdãoEva



Andei pensando sobre esse papo de que nós mulheres estamos evoluindo e os homens ficando para trás*. Demorei bastante para chegar à alguma conclusão, mas agora tenho uma opinião a respeito deste clichê: discordo totalmente. Totalmente mesmo. Se as mulheres estivessem realmente "evoluindo", elas entenderiam que o verdadeiro desenvolvimento só é possível quando existe uma harmonia das forças complementares: YinYang. Sem a integração do feminino e do masculino nenhuma evolução real é possível. O poder do feminino é imenso na organização psíquica dos homens. Da mesma forma que as mulheres precisam do poder do masculino para atingir a consciência da totalidade. Simplesmente não existe a eclosão do feminino, se o masculino não eclode. E vice-versa. E se nós mulheres achamos que os homens não estão amadurecendo como deveriam, então isto quer dizer que nós também não. Uma coisa é absolutamente interdependente da outra. Neste mundo embrutecido, estamos todos amedrontados e sem identidade. Somos todos sexo frágil. E nem vale a pena questionar quem é mais frágil. Esta pergunta apenas reflete uma lógica de mercado. Fragilidade não precisa ser mensurada e nem comparada, apenas acolhida. O mesmo devemos fazer com as forças feminina e masculina: abrigá-las.

(*) Principalmente depois que recebi um texto escrito por um homem que dizia: "Sem o machismo, o que vemos são homens fracos, passivos, sem iniciativa, amedrontados diante da nova mulher. Um homem sem forma, sem identidade. Por que nós, homens, estamos assim? Existe saída?".

Sossego

Moçambique, set 2010.

Hoje eu me sinto tranqüila, como se o tempo pudesse esperar.
Como a lua, serena. Como as estrelas que ficam olhando o milênio passar.

Hoje eu me atino tão calma, como se a compreensão
fosse um presente. Sem passado, sem futuro. Sem opinião.
Sem nada que possa atrapalhar o meu coração.

Hoje eu me movo mansa, como um fluxo sem impedimento,
uma rede de frente para o mar, um embalo sem pressa, sem procedimento.

Hoje eu me pressinto pacífica, num juízo instintivo,
numa confluência com o silêncio, num encontro com o primitivo.

Iansã - A Deusa dos Orixás



Nenhum vento poderá desviar a minha barca, nenhum raio mudará o meu caminho.

“Senhora da Tarde, Dona dos Espíritos, Carregadeira de Ebó, Senhora dos Ventos, Raios e das Tempestades. Esses e alguns outros são os nomes desta grande Obirinxá (Orixá fêmea). Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais, é um orixá do fogo, guerreira e poderosa. Ela é a Mãe dos eguns (espíritos dos mortos), guia dos espíritos desencarnados, deusa dos cemitérios. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaiê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma. Oiá relaciona-se com todos os elementos da natureza. A água, sob a forma de chuva, de tempestade. Foi o ar de Iansã que espalhou as plantas medicinais, anteriormente guardadas pro OSSAIN numa cabaça. Mas sua essência é o movimento e o fogo - é o Orixá do raio. Esta relação com o movimento e o fogo faz de Iansã uma divindade do sexo e do amor. Ela é rainha por ser a predileta de Xangô. E por ser mãe e rainha dos EGUNS, é o único orixá que não tem medo dos mortos. Seu número é o nove, produto de 3 x 3 - o par Inicial mais um, indicando continuação - puro movimento. Ela usa uma espada de cobre e um "espanta moscas"- o eruexim -, com o qual mantém os Eguns afastados.”

Sunday, October 24, 2010

Abertura emocional II

Ele ligou para ela com o intuito de convencê-la a se encontrarem. Hesitante, ela acabou concordando. Apesar de tantos meses arrastados, ela acreditava veementemente que as pessoas mudam - não por causa dos outros, mas por elas mesmas - e torcia sinceramente para que este fosse o caso. Sentindo-se ela mesma transformada, pegou o carro e foi até o café que ele havia sugerido. No caminho, lembrou da frase do Pablo Neruda: "tú y yo teníamos que simplemente amarnos" e, de súbito, o que é natural a encheu de alegria. Saltou do carro contente. Estava convencida de que a mágica seria maior do que aquele passado tumultuado. De coração aberto, atravessou várias mesas sem olhar para os lados e foi feliz abraçá-lo. Ele titubeou. Ela, porém, não se deixou intimidar. Estava decidida a não julgá-lo. Queria apenas sentir a sua presença e aceitá-lo. Ele se apressou em falar e, após algumas palavras sem nexo, prosseguiu com palavras que tinham menos nexo ainda. Ela sabia que ele queria dizer o que realmente sentia, mas o medo de se expor era muito maior do que ele. E, ao invés de se abrir, ele tentava manter-se incógnito através de sua sedução manipulativa .  O desapontamento foi, enfim, inevitável e, sem conseguir se conter, ela lamentou: "tão triste isso, mas eu cansei do que me impede de chegar até você. Eu cansei do seu medo, do seu jogo, do seu orgulho. Eu cansei das suas defesas, das suas meias-palavras, dos seus subterfúgios. Cansei do seu ‘faz-de-conta que’ está só um pouquinho apaixonado por mim quando a coisa que você mais deseja é ficar comigo. Cansei dos seus e-mails que querem dizer mas não dizem. Desta sua postura aparentemente fria e distante, sendo que a ansiedade lhe come por dentro. Cansei da sua mania de deixar no ar um clima repleto de tensão e dúvida, só para mostrar que você está no controle. Pra que todo esse esforço racional? O que posso dizer? Eu estou completamente apaixonada por você e deliberadamente aconchegada nas suas mãos". E, ao pronunciar estas últimas frases, mais uma vez, ela viu nos olhos dele uma vontade incrível de viver aquele sentimento, mas também um temor incomensurável de, ao fazê-lo, ficar totalmente vulnerável. Havia dentro dele um pânico do que poderia acontecer se ele parasse de dominar a intensidade de suas emoções e se rendesse por inteiro.  Um medo não daquele instante, mas do amanhã. E, novamente, ela compreendeu que nada do que ela dissesse ou fizesse iria mudar a angústia do dilema que ele sentia. Sem tomar o café que estava à sua frente, ela suspirou longamente, deu um beijo na boca dele e foi embora.

Friday, October 22, 2010

Respirando...



"Reading a newspaper, I saw a picture of birds on the electric wires in 2009. The photo was taken by Paulo Pinto. I cut out the photo and decided to make a music, using the exact location of the birds as notes (no photoshop edit). I knew it wasn't the most original idea in the universe but I was just curious to hear what melody the birds were creating. Yes! These birds created their music. They were composers!" Jarbas Agnelli

Thursday, October 21, 2010

Abertura emocional

Totalmente tomada pela desistência, ela levantou do sofá sem dar muita explicação, pegou a bolsa e foi em direção à porta. Antes de sair, virou-se e disse: "por mais profundo que seja o meu sentimento por você, não consigo continuar lhe querendo. O medo lhe paralisa. Você vive de intervalo em intervalo. Dá dois passos para a frente, sente-se completamente vulnerável diante de mim e volta dois passos para trás. Esconde-se nos seus pensamentos como se as suas emoções por mim lhe colocassem em perigo. E neste pseudo abrigo, fica durante dias bolando estratagemas para me conquistar sutilmente. Torcendo para que eu fique completamente enamorada de você, enquanto tenta enterrar qualquer vestígio de sentimento por mim. Sabe, o amor acontece na entrega e a entrega é um salto de fé que cada um tem que dar. Neste sentido, a falta de entrega de uma pessoa nunca poderá ser compensada pelo excesso de entrega da outra. E tampouco uma pessoa jamais poderá convencer o outro a se render. Por isso, mesmo lhe querendo tanto, vou ter que seguir". E saiu da casa dele da mesma forma que entrou: apaixonada, mas convicta de que ninguém muda ninguém.

Entrevista com Gilles Lipovetsky

Sim, o capitalismo já engoliu tudo, mas ele nunca será capaz de valorar o sentimento, de dizer quanto vale um beijo, de pasteurizar o amor, de impedir a Verdade. Por isso, acredito firmemente que aí reside a nossa única brecha: no coração.  Gostei muito desta entrevista com o filósofo Gilles Lipovetsky que recebi do meu amigo Atus.


Terra Magazine: O amor é, segundo você, uma das poucas coisas ainda não absorvidas pela mercantilização.

Gilles Lipovetsky:  Mas há uma mercantilização, mas há uma busca pela autenticidade. A questão é que a autenticidade hoje é móvel. Mas ela é verdadeira enquanto a vivemos. Há vários limites para a mercantilização. Um deles são os sentimentos, o valor amoroso. Outro limite são os valores éticos. E, por último, a verdade. Há um certo número de princípios que dá um termo à lógica da mercantilização e que faz com que tudo não seja espetáculo, show ou equivalente entre si. Isso é que permite a crítica da sociedade e também a fazê-la mudar. Há tensões, energias, potenciais que permitem imaginar críticas, correções. E será necessário fazer essas correções. Estou convencido de que as coisas um dia mudarão, mas não logo. Uma cultura que dá mais peso às grifes e ao consumo do que à criação não é algo normal. Há um desequilíbrio. Um dias as coisas vão mudar. E é a educação que deverá fazer isso. As coisas devem ser relativizadas. E para isso é preciso ter outros objetivos na vida. Mas isso não é o consumo nem a crítica do consumo que vai fazer.

Entrevista na íntegra aqui.

Monday, October 18, 2010

Metamorfose

Pôr-do-sol no Atacama, out 2010 (sem photoshop)

se um dia eu virar
um céu vermelho e estrelado 
 apenas me sinta
e venha comigo
na forma que você quiser

En la casa de Pablo Neruda

Chile, out 2010

“tú y yo teníamos que simplemente amarnos” 

Pablo Neruda

Tuesday, October 12, 2010

Sem título

Se eu pudesse
eu engoliria você inteiro
só para que o seu corpo
tocasse o meu por dentro
e a sua boca
beijasse o meu coração
incendiado

Saturday, October 09, 2010

Fim de Cena

Depois de ouvir todo o discurso repressor dele, ela respirou fundo e com os olhos marejados iniciou um monólogo por muito tempo reprimido: que as outras pessoas me censurem, digam que eu enlouqueci, que larguei tudo porque perdi o senso de realidade, eu até entendo. Mas você, você não. Você sabe o que me move. Fala. Fala pra mim quantas pessoas teriam o desprendimento de fazer o que eu fiz? De suportar o tranco de uma mudança real, profunda e verdadeira? De sair do discurso? De ser, de fato, a própria reinvenção? Porque todo mundo fala de mudança, mas cadê? O povo fica só no texto. Reclamando e dizendo que um dia vai mudar. Mas é tudo papinho. A maioria só faz transformação cosmética. Sabe porquê? Porque o vazio que precede o salto é f**a.  Porque uma mudança de verdade exige buraco. Exige uma temporada no nada. No limbo. Me diz: quem, por livre espontânea vontade, entra no inferno? Quem? E porque eu entrei? Não tinha porquê. Sei lá. Tinha um grito existencial dentro mim. Eu queria não ter, mas tinha. Eu tentava não sentir, mas sentia. Queria calar e fazer de conta que não havia. Mas havia. Por este motivo fui em busca de um sentido. E não, até agora eu não sei onde vai dar. PQP, eu não posso lhe apresentar respostas. Só tem caos dentro de mim. Já falei: tô no l-i-m-b-o. Sabe o que é limbo? Um estado totalmente vago. Eu não tenho a mínima idéia do que vai acontecer comigo daqui a pouco que dirá amanhã. Eu não sei se vou morrer na solidão e na miséria porque decidi mudar a minha vida. Eu não sei! Mas eu sei que não queria mais o que eu tinha. Tava tudo ótimo, mas no fundo não tava. Que fundo? Esse fundo que não tem fundo. Que você procura onde colocar o pé mas não acha. Essa voz que incomoda, que você reprime e volta. Por isso eu fiz o que fiz. Por isso larguei tudo. Por isso deixei você. Segui no escuro em direção ao que não se sabe. Não foi uma escolha. Foi um desespero. Uma sensação total e completa de exasperação. É por esta razão que eu lhe falo: pare de me segurar. Eu sei que você acha essa conversa loucura de maluco. Que a sua vida é incrível e que, aliás, você queria que tudo fosse exatamente como era antes. Eu entendi que você quer manter o status quo. Respeito. Mas eu? Eu quero diferente. Eu cansei de melhorias aparentes. Eu quero o salto quântico. E nada e nem ninguém vai me demover do que você classifica de sandice. É maior do que eu. Um indefinível me puxa. E se você me quer bem, como você diz que me quer, solte a minha mão. Deixe-me seguir para este lugar que eu nem sei se lugar é. Se você me ama, do jeito que você diz que me ama, por favor, me deixe ir. E quando eu estiver lá, se por acaso o pavor me consumir ou me paralisar, eu lhe peço: me empurre. Sim, use toda a força do seu amor para me arremessar no abismo.
Flores da Didi, out 2010.

"Terror de te amar num sítio tão frágil quanto o mundo.
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa."

Sophia de Mello Breyner Andresen

Conversando com o meu Mestre sobre a revolução do feminino, ele retrucou: “nós homens, entre nós, apenas mentimos. Precisamos de vocês, mulheres, para alcançarmos a Verdade. O Divino”.  Fiquei tão comovida que calei.

Friday, October 08, 2010

Thursday, October 07, 2010

As Neves do Kilimanjaro

Ele me mandou um e-mail e disse: “quero saber dessa sua aventura africana, que me lembrou um dos meus contos favoritos, chamado As Neves do Kilimanjaro. É imperdível. O personagem principal conversa com a morte na savana na África.” Curiosa, fui procurar o texto na net e acabei me esbarrando com uma frase bem masculina do mestre Hemingway. Em seguida, respondi: “agora estou ainda mais interessada em ler o conto. Uma mulher realmente nunca teria este tipo de pensamento. Simplesmente, não faz parte do nosso DNA.”


"Ela não tinha culpa de ele já estar acabado quando começaram a andar juntos. Como é que uma mulher podia saber que uma pessoa não queria dizer nada daquilo que disse; que uma pessoa falava apenas por falar e para se sentir bem? Depois que começou a fingir que falava verdade, as suas mentiras eram mais bem sucedidas com as mulheres do que quando ele lhes dizia a verdade. Não era tanto o fato de ele mentir, mas antes o de não haver uma verdade para dizer" Enrnest Hemingway in As Neves do Kilimanjaro.

Wednesday, October 06, 2010

As mulheres macuas

Três gerações na Ilha de Moçambique, set 2010.

Estava eu conversando e aprendendo com essas duas lindas mulheres macuas, quando Fátima, a mais nova, me perguntou se eu tinha filhos. Respondi que ainda não. Então,  ela me deu o seguinte conselho: "você deve engravidar e ter primeiro uma menina". "Uma menina? Por que uma menina?", perguntei eu, hesitante. E ela me respondeu (com um tom de quem diz: esta aí não entende nada mesmo): "Por quê? Porque você é mulher e uma mulher sempre deve ter uma filha primeiro." No dia seguinte, fui lá na net tentar decifrar essa "obviedade", explicada abaixo. Quanto ao primeiro bebê da Fátima, sim, foi uma menina. A fofucha que está aí na foto recebendo o banho de ervas.

“A estrutura social macua é matrilinear. A criança, quando nasce, passa a integrar o clã materno. Quem exerce a autoridade sobre os filhos é o tio materno mais velho: ele tem direito a intrometer-se na vida da irmã casada e até a censurar a conduta do cunhado, se vir que algo corre mal. O casamento só se pode efectuar com membros de outros clãs.
A mulher ocupa o centro da vida familiar: educa os filhos, cuida da casa e prepara a comida. A sua principal tarefa prende-se com a maternidade e para ela é preparada desde pequena. Poder dar à luz traz-lhe prestígio e, assim, o nascimento de uma menina é festejado com alegres ilulu – gritinhos típicos das mulheres macuas. O mesmo não acontece com os rapazes e a mãe costuma mesmo perguntar: «Valeu a pena sofrer tanto?»"

Esta é a tradição macua. Porém, atualmente, a situação da mulher em Moçambique é bem diferente.  Mais sobre o povo Macua, que vive na região norte do país, veja aqui.



Fatos da vida

Onde existe muita gente pobre...

sempre existe gente muito rica.

Tuesday, October 05, 2010


Em Moçambique, finalmente me dei conta de que o pior mau-olhado é aquele que coloco em mim mesma.  Este é o que realmente me afeta e me limita.


Linda você, África.

Moçambique, out 2010.


Estou tão enfeitiçada por você, África. Entregue aos seus encantos e dissolvida na quentura do seu aconchego. Transmutada em terra, em céu, em vento. A sua lua me pegou no colo e aconteceu: amoleci. O seu chão me transformou em raiz. O seu sol me beijou na nuca. Como resistir ao seu ar macio que respira na minha espinha? Como não me apaixonar pelo seu abraço inteiro? A sua carne tem alma - desnuda, íntegra, iluminada. Ah, negra sedutora, você tem a mesma mandinga que a minha querida Bahia: um bem querer que faz a gente lhe querer bem.

Sunday, October 03, 2010


êta travessia longa. Será que do outro lado, essa noção de lado acaba? Finalmente YinYang, AnimaAnimus, AdãoEva, SolLua? Afinal, o inteiro? Por fim, o todo? A harmonia dos opostos? Será?


a entrega verdadeira silencia todos os clichês * no espaço do imprevisível, as expectativas são surpérfluas e as classificações desnecessárias * quem se atreve a entrar no território do imponderável sem a velha armadura? * quem se arrisca na emoção do inesperado sem nenhuma garantia? * ah, como eu queria que o meu coração me engolisse, que a coragem do sentimento me inundasse, que o amor me levasse sem volta...

Saturday, October 02, 2010

Memória

Você pegou a bicicleta e saiu pela rua até o horizonte ficar mais perto do que o seu cheiro. Lembro-me como se fosse hoje do dia em que você foi embora e nunca mais olhou para trás. Fazia muito frio. O mesmo que faz agora.

Provocação

Ao ouvir aquela música, ele perguntou para ela: alguma vez, você já fez strip-tease? Surpreendida com o calor da provocação, ela sorriu. Levantou do sofá e lentamente foi até o canto da sala. Colada na parede, ela tirou a blusa e dançou. Só para ele.